A Janela Aberta
14/05/2013
 
Apenas aos domingos
A janela era aberta
E os raios do sol
Iluminavam o quarto,
Sua luz era como o grito
De um recém nascido
Anunciando que a vida chegara. 
 

Do outro lado da janela aberta

A  estrada de barro, poeirenta,
Os corais, a praia deserta, 
Uma nuvem no céu, cinzenta.
O lamento de uma cigarra,
As dunas, o cajueiro,
As jangadas no  horizonte,
O bailar das palhas do coqueiro.
 
O lençol branco na cama,
O jarro com flores sobre a mesa
Com sua toalha bordada
Em seu ar de realeza.

Homens passando para o jogo do domingo
No campo de areia da praia,
Mulheres segurando as saias.
  
O som dos  atabaques
Fugia de seu esconderijo,
E um canto suave, agudo
Discretamente invadia a sala
Numa súplica que só hoje entendo:

-“Por favor, me abrace,
Atravessei esses mares,
Subi e desci muitos rios
E preciso de  abrigo,
Não posso morrer de frio”! 
 
Um rádio antigo tocando,
O canto do mar, o vento,
A voz das pessoas,
Pedaços de mim,
Retratos da vida
Descolorindo
Na lembrança da janela aberta
Nos dias de domingo.

 
 
 
 

O farol de Natal (Mãe Luíza) esta sobre uma duna a mais de oitenta metros no nível do mar. Imponente em seus 37 metros, o farol é um aviso aos navegantes que a cidade esta próxima.
Era guarnecido nos anos sessenta por três faroleiros, entre eles meu pai. A janela da frente da casa que nós morávamos só era aberta aos domingos....
Nair Damasceno
© Todos os direitos reservados