Nasce um menino sobre o skate
Numas horas sorri, noutras apenas ecoa o  grito da desordem
Da infância uma compreensão,
Sua inconstância!
Sua vida  foi para você,  um espelho quebrado
Fugia das regras dos ensaios,
Nos entremeios dos tópicos, seus presságios
Num dado momento fitava seu olhar
Noutros saltava sem pensar!
Esse era o Chorão
Não se amparava em subtítulos
Nem colocava um ponto na história
Ela se alongava entre mágoas e traumas
Ela apenas se repetia na beira do Porto
Sua história ritmada em notas
Chorão era apenas o Chorão
Por não saber andar de skate
Protestava em silêncio
Mas não chorava
Rodou por Santos, conquistou amigos
Era gentil e simpático
E se foi sozinho
Do seu mundo desenhado entre letras
Partiu um filho parido amparado na incompreensão do seu mundo
Friamente pariu sua história cantada em letras
Declamada em poesia.
Ele insistia em decifrar o que não se explica
Ele insistia em mudar o que não tinha retorno
Por que é tão difícil entender que não estou aqui para apenas sorrir?
Por que há tanta dificuldade em encarar a verdade?
Por que minha dificuldade não é a sua e sua verdade para mim
É mentira!
Por que tudo tem que seguir minhas vontades?
Quem eu sou?
Quantos padecem do básico nesse mundo afora
Quantos gozam mínimo sem conhecer o nada.
E mesmo assim seguem de sol a sol
Que caia a tempestade
Que caia o mundo!
Por que é tão difícil saber, aceitar, calar...
Recuperar.
Por que quero tudo do meu jeito sem prestar socorro
Sem apreço!
Por que não tenho resistência à dor?
Porque quero desenhar um mundo meu
Rico em detalhes
Ou exigir apenas o básico, trivial
Mas esse é o meu desafio
Chorão não morreu por conta das drogas.
A inconformidade da alma do poeta lhe traz vida
Ou morte.
A inconsistência da realidade lhe faz mover seus terrenos
A intolerância predomina, engole e determina
Eu  me entrego á ruína
Chorão pediu para partir sem pensar em mim...
Sem saber até quando eu esperaria suas letras
Contando as ocorrências seguidas da minha vida
Ele partiu porque decidiu partir e não deixou sinais
Simplesmente foi
Choro,  choro silencioso
Agora só o ronco do skate me faz sucumbir.
 
Claudia Ferreira