RELEMBRANDO MINHA INFANCIA-(Conto)-

Relembrando minha infância-(Conto)-

 

 

                                           Cinco horas da manhã, a penumbra da
noite ia se dissipar em breve com a chegada dos primeiros clarões do dia.
Estava tudo planejado, eu, o Cebinho, o Gonçarve e seu irmão Dércio, e meus
dois irmãos mais velhos o Bá e o Gaíco caminhávamos em direção a mais uma
aventura inesquecível. O ano era 1968, eu acabara de completar minha sétima
primavera e fui “convidado” a participar porque ouvi uma conversa de meus
irmãos e ameacei contar pro meu pai. A única maneira de “calar” minha boca e
escapar de uma surra era me levar com eles para o “grande evento” e assim foi
feito, desde pequeno eu já era “persuasivo”, heheheh. As chuvas tinham sido
abundantes na região e favoreceram a safra de frutas cítricas que era a
principal fonte de renda da pequena cidade, destacando-se a laranja que depois
de colhida era levada para uma
indústria de propriedade de ingleses que fazia a seleção, a lavação e depois
embalava os frutos em caixas de madeira para serem enviados à Inglaterra.

                                           Meu
pai trabalhava nessa indústria como chefe no setor de lavação. Estávamos a
cerca de trezentos metros do local a ser abordado em nossa empreitada matutina,
era um misto de medo e ansiedade, mas o Cebinho, que ganhara o apelido pela
falta de banhos regulares, ia à frente e pedia silencio já tinha a estratégia
de ação para o sucesso da “missão”. Ele sondara o local por vários dias e sabia
como “burlar” a vigilância do proprietário da pequena fazenda que ficava nos
arredores da cidade e era o nosso “alvo”. Eu era o menor da turma e o Bá, meu
irmão mais velho estava bastante irritado com minha presença porque eu não
conseguia acompanhá-los na caminhada: - Não sei por que fomos trazer esse
merdinha, só tá atrasando a gente, dizia, enquanto me puxava pelo braço. “Seu”
Belarmino, sexagenário, homem respeitado, casado com Dona Genoveva, tinha
quatro filhos, sendo que o Tião, que
era o mais velho, e a Jussara, uma linda morena, no vigor da adolescência
trabalhavam na indústria de “cítricos” indicados por meu pai que era muito
amigo da família, enquanto o Paulo, um rapazola de quatorze anos ajudava nas
tarefas do sitio e a Chiquinha que completava o clã era ainda muito pequenina e
ficava aos cuidados da mãe. – Pessoal, disse o Cebinho, - nóis vamo tê uns
cinco minutos para fazer a “colheita” – é pular a cerca catar as poncãs e sair
correndo, - muito cuidado com o “Duque”, vamo lá, em silencio. Fiquei um pouco
preocupado, quem era esse tal de “Duque”? Deve ser um empregado, pensei, na
minha inocência, e fiquei do lado de fora da cerca que tinha mais ou menos uns
três metros de altura confeccionada com fios de arame farpado e ainda uma
proteção de tela de arame liso, o que dificultava a ação de invasão da
propriedade, mas, moleque é moleque, né e os obstáculos foram facilmente
transpostos.

                                            Tudo
corria como o planejado, eu estava bem quietinho esperando. Passados uns três
minutos fez-se um silencio assustador e na sequencia escutamos duas palavras
que provocaram pânico e correria: - pega Duque! ...E o Duque, um velho pastor
alemão, para nossa sorte não tinha muita vitalidade, mas assustava pelo porte
gigantesco que possuía e o poderoso latido que emitia tentou obedecer a ordem
do dono, mas ficou confuso com tantos moleques para pegar e deu tempo para todos escaparem de suas mandíbulas sem porem levar
uma única poncã(tangerina). Até hoje não sei como meu irmão conseguiu
correr tanto comigo em suas costas... Para mim foi muito divertido, heheh, o
problema agora porem era outro, O “Seu” Belarmino certamente iria contar para
nossos pais e a surra seria inevitável. Ficamos esperando o pior, mas
passaram-se dois dias do ocorrido e nada do “Seu” Belarmino aparecer, que alivio,
pensei, acho que não vamos apanhar dessa vez.

                                             No
Domingo seguinte ao acontecido estávamos almoçando quando bateram palmas e meu
pai foi atender, adivinhe quem era?  Isso
mesmo, o “Seu” Belarmino, meus irmãos quando o viram mudaram de cor e já se
prepararam para a “surra” que viria porem para nossa surpresa ele trouxe uma
caixa de uns quarenta quilos “lotadinha” de poncãs para presentear meu pai em
função da amizade que tinham. Ficamos escondidos atrás do muro e pudemos
escutar quando o “Seu” Belarmino comentou com meu pai que alguns moleques
tentaram entrar em sua propriedade para roubar suas poncãs, mas não sabia quem
eram os “delinquentes” pois estava escuro na ocasião, e por esse motivo ele
havia feito a colheita e estava distribuindo para seus amigos. Meu pai
agradeceu e depois de mais meia hora de bate-papo entrou com a caixa de
tangerinas fresquinhas que fizeram nossa alegria, porem ante o comentário que
fez a respeito do que o “Seu” Belarmino havia lhe dito e a indignação de não
ter conseguido descobrir quem seriam os pilantras que tentaram “surrupiar” suas
frutas meu irmão mais velho, com um sorriso cínico arrematou: - são mesmo uns
pilantras, né pai?!!!... Foi assim que aconteceu... Ainda me lembro...

 

 

Pedro Martins

23/01/2013

Às vezes em minhas reflexões retorno ao tempo de infancia e dá vontade de escrever algo a respeito, na verdade
sempre gostei mais de fazer isso em forma de poesia, com rimas, mas tenho que reconhecer que logo que me tornei sócio nesse site e li os textos do "Amigo Ediloy", incentivado por seus comentários, peguei gosto pela coisa e tenho escrito regularmente, porem como são textos mais extensos tenho evitado a publicação nesse espaço mas em breve estarei utilizando meu Blog que está em fase final para divulgar mais histórias à quem se interesse por esse tipo de leitura... Muito Obrigado a todos e principalmente ao Ediloy que é com certeza uma "Pessoa Iluminada"...

Pitangueiras, relembrando peripécias da infancia...

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