Dando Cor a Folha em Branco


 

Dando Cor a Folha em Branco
 
 

São três horas da manhã, cismei que sou escritora, ideia fixa da qual não quero me livrar. A única coisa que me deixa sem graça é uma folha em branco.
Peguei o texto de ontem, na tentativa de acertar alguma coisa. Mas se fizesse isso não seria mais uma folha em branco, um vácuo, uma não ideia.
O mais certo foi passar para uma outra folha em branco, colorindo-a com aquilo que brotasse da memória, sem compromisso com a forma, com a estética, com os preceitos da escrita. Escrever de bobeira... Escrever por escrever.
Quando se chega aos quarenta anos, ocorre a busca pelo tempo perdido. As pessoas querem ir à forra, fazer tudo aquilo que não fizeram por falta de coragem ou oportunidade.
Isto está acontecendo comigo.
Nasce à ousadia, a paixão pela vida, pelas pessoas. Tudo passa a ter importância, as reminiscências da infância, trancafiadas na memória se organizam em crônicas desconcertantes.
Aos quarenta, dá vontade de criar projetos, escrever livros, tocar violão, voltar a estudar, abrir um negócio, idealizar um jardim... Tudo parece mais fácil. A vergonha já foi colocada de lado, a estabilidade dá lugar aos sonhos.
Mas, não se engane! Há de se ter coragem! O que parecia tão fácil, requer disciplina, treino, perseverança. e às vezes bate uma vontade de desistir... Desistir de tudo e viver uma vida sem graça, sem folhas, sem jardim, sem sustenido, sem o fá, que atrapalha aquela canção na hora de esticar os dedos.
Mas desistir é um obstáculo a ser vencido, é preciso provar, através da insistência, que é possível ser escritora, é possível dar cor a uma folha em branco, é possível tocar algumas músicas que servirão de acalanto nos dias tristes. É possível ainda, plantar um jardim e esperar o surgimento das flores.
Basta acreditar que seja possível.


“Pois tudo é possível àquele que crê.”

          

Selma Nardacci dos Reis
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