setembros
manto solar estende desenrola
seus raios
espreguiçando seus membros
em ruas da cidade
 
joga o claro escuro das janelas
das portas num esconde
esconde de amanhecer
como convite ao acordar
adormecer
 
enleiam-se braços
trocam-se corpos numa
simbiose formal de encontro
sem chama num ato de
despedida da cama
 
maria reticente bem acordada
de insónias visitada
aguarda não por amor
por nada
 
baila na cabeça madrugadas
de incertezas
criança, livros, escola
roupa
vai e vem estelar que
certezas  iluminam
suas alvoradas
 
pão carne batatas
feijão
casa  gás luz
que cava a insónia
para lá da televisão
que tudo se reduz
 
sentir a vida em contramão
saber o josé desempregado
anita sem abono
salário em redução
diário malfadado
 
josé não tenho não
amor foi guardado
em armários de aflição
resta rezar a fátima
que me segure o patrão
 
Emílio Casanova, in “ninguém compra”
 

Emílio Casanova
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