Como de pântano selvagem
sou folha seca caindo do galho
e suavemente levado pela brisa
a lugar nenhum de um chão
qualquer desprezado pelo tempo

Talvez espiral de fumaça
esvoaçando e esmaecendo
qual pensamento repentino
e logo esquecido por inútil,
quiçá aquele pingo de tinta
que respingou e ninguém viu

Qual a importância, então,
do pingo de chuva, da pétala
arrancada da flor, do til
no vocábulo não, do que é
insignificante  e desprezível?

Não se torna a folha seca
excelente parte do adubo,
a fumaça não elimina mosquitos,
o arremate prescinde 
do respingo na obra de arte?

Se o tudo é composto de 
átomos, então até um grão
de areia tem importância
no complexo Universo, assim
alegro-me por ser tão-somente
essa folha seca disforme.

Gilbamar de Oliveira Bezerra

Gilbamar de Oliveira Bezerra
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