Por trás dos pilares
Eu vi sua ciranda,
Seus olhos pequeninos,
Seu ritmo de dança,

Com carinho coloquei
Em seu delicado pescoço
O colar que comprei
Retirando do meu bolso,

Vi lágrimas em seus olhos
Um sorriso dengoso,
Suavemente nervosos,
Magicamente glorioso,

Tudo em preto e branco,
Em névoas, opaco,
Menos o que ia se moldando
Em sua cores, seus passos,

Os sons se misturavam
Num zunido indecifrável,
E meus ouvidos escutavam
Apenas sua voz amável

Como uma doce melodia
Em meio a multidão,
A única que coloria
Aquele imenso salão,

Nem lembro o que assisti,
Que filme passou no telão,
Só sei o que senti
Segurando sua mão,

Quantas vidas já vivi,
Quantos vinhos já provei,
Para só então descobrir,
Que uma vale mais que cem,

Talvez essa seja
A última vida que terei,
Talvez não mais amanheça,
Talvez, não sei...

Se mais uma vida eu tiver
Certamente vou saber
Que mesmo se eu puder,
Outra, não vou querer,

Troco todas elas
Por uma ao seu lado,
Pois tudo vira pedra
E poeira no espaço,

Tudo volta às estrelas
Como o esticar de um elástico,
Há de haver mil centelhas
Que explodem em um abraço

E polinizam novamente
Tudo aquilo que se foi,
E tão suavemente,
Tudo novo se constrói.