Hoje acordei com vontade de solucionar problemas. Abri o forno e arranquei de lá aquele tabuleiro de gordura com restos do pernil de natal. Resisti muito em lavá-lo, achei que poderia aproveitar tudo aquilo numa farofa para o almoço. “Farofa que nada! Vou lavar essa coisa logo.” Tentei amolecer aquela gosma com água morna, mas ainda ficaram resíduos para resolver depois.
As férias mal começaram e já estou inquieta. Deve ser doença. Virei para o Sampaio e disse que estava com vontade de fazer algo diferente, aprender algo novo. Mas, ele, muito carranca, disse que eu parasse de palhaçada e sossegasse o facho.
Muito tempo eu não ouvia essa expressão: Facho. Que droga é essa? Mas dentro do contexto, significava: segurar a peteca, parar de inventar moda e ficar quietinha em casa.
Ficar quietinha em casa seria difícil. Ontem mesmo fui ao cinema. Nossa! Como fica o olho da cara ir ao cinema, no mínimo, quinhentos reais. Tenho que sair carregando uma tropa... Entre gasolina, pedágio, almoço, entrada do cinema e lanche, lá vai uma bordoada! Mas valeu a pena. Que filme! Puts! Aquaman. Ninguém pode passar para outro mundo sem assistir o filme em 3D, onde a maior parte acontece nos mares. Os peixes me cumprimentavam na poltrona. Eu, carente de cinema, me sentia molhada com aquela água toda. Chorava por dentro, para não dar na pinta! Muita emoção. Pingos muito finos molhavam o meu braço. Parei de prestar atenção no filme e passei a refletir como aquela água caia sobre mim... Seria uma jogada de marketing? Alguém, contratado pelo cinema, estaria em algum lugar, escondido, borrifando água na platéia? Impossível! Não fariam isso. Daria muito trabalho. E eu, não parava de pensar, já estava acreditando que certo magnetismo pessoal, transformava aquela imagem em algo real. Necessitei compartilhar aquilo com alguém, Foi aí, que virei para o lado e disse para o meu filho:
- Olha filho! Eu estou toda molhada, o filme é muito real.
Ao que ele me disse:
- Mãe! Olhe para cima. Estamos sentados embaixo do ar-condicionado.
É ... Hoje acordei com vontade de solucionar problemas.
Selma Nardacci
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