Nunca ames por piedade


Em qualquer relação de vida
É de morte a atenção
Por mera conveniência.
 
É a hora tão dolorida
A de extrair uma fração
Do tempo e da paciência.
 
Mais até que transformar em tenor
Um ser de aguda voz;
Dói mais que a sina do algoz
A irromper contra seu senhor.
 
O olá, a mensagem elaborada
Só para cumprir um ritual
Duma relação em desequilíbrio
É a hora mais angustiada,
Causa tanta dor emocional,
Tanto quanto torpor psíquico.
 
Deus, como deve o ente
Desesperar-se nesta atitude
De hábito convencional!
Além de ser incongruente,
É angústia que, amiúde,
Convulsiona o ser espiritual.
 
Em qualquer relacionamento
De amizade, de afeto e de amor,
Se o simples ato de dizer alô
Torna-se um árduo desprendimento,
 
Florear a carcomida relação é desvario;
É como, no jogo de xadrez,
Entre soldado e rainha, o duelo.
 
Carece de sabedoria regar o equívoco;
É incomensurável estupidez,
Se não há amor, o desvelo.
 
Pois a vida é um presente
Tão gracioso e singular!
A nós nos cabe só o labor
Do viver e sorver a felicidade.
 
A quem te ama tão intensamente,
De um modo singelo e ímpar;
Mesmo que conveniente o amor,
Nunca ames por piedade.