Pessoas interessantes têm um charme incomum e, por que não dizer, em comum.
É uma beleza que transcende os atributos físicos ou financeiros que possam possuir além.
Aliás, o status social pouco influencia.
Elas são dotadas de experiências nobres, já que delas extraíram o melhor como aprendizagem.
Já acreditei que o sofrimento pudesse ser transformador no melhor sentido de agregar valores como a humildade.
Pode ser  ou não.
Já tive a felicidade de conviver com pessoas fascinantes por sua história e, sobretudo, pela maneira que vivenciaram os seus desígnios.
Sempre, sem lamentações, seguiram em frente e proporcionaram ao outro o seu melhor.
Em São Paulo, convivi com um goiano incrível que colecionava memórias dignas de serem reportadas com um final feliz.
O rapaz fora abandonado pela mãe ainda criança e adotado por um benfeitor da alta sociedade , juntamente com mais quatro irmãos, sendo um deles sanguíneo.
Antes disso, por circunstâncias desconhecidas, tornou-se garoto de aluguel e bom amante. Daí talvez tenha surgido o cavalheiro que se tornou ao longo dos anos.
Herdou do pai, além do sobrenome imponente, o bom gosto pela gastronomia e artes.
Aliás, o pai morreu em seus braços, inesperadamente como a morte é.
Sempre foi um homem de muita sorte, como deveria ser.
Foi ganhador da quina da loto e de tantos prêmios que perdi a conta.
O melhor deles, uma filha prodígio, bárbara por natureza!
Bárbara!
Não entendia ao certo, mas ele tinha vários nomes próprios, segundo às suas necessidades emocionais (Como um estelionato a si mesmo).
Talvez tivesse se inspirado em Fernando Pessoa, ou não.
Desses, convivi com o divertido Diogo e o sóbrio Armando das correspondências bancárias.
Amei intensamente aos dois ou três, pois ainda haviam os apelidos.
Hilária era a minha incompreensão.
Só  um detalhe me intrigou ao longo dos anos: a sua dificuldade em recompor as fases da sua vida em letras e verbos.
Tive o prazer de desvendar parte das suas trajetórias graças a um baú que guardei por anos a fio, herdado do seu finado pai.
Aliás, ainda hoje, me emociono ao colecionar tantas memórias.
Essa propriedade rara, que não me pertence, talvez seja a esperança que um dia reencontrar o seu dono como nos velhos tempos de juventude.
Quiçá a melhor forma de relembrar os seus lindos olhos azuis, intensos como a cor do mar e inesquecíveis como as aventuras adolescentes.
Certa vez prometemos cuidar um do outro na velhice !
Amar é envelhecer com você !
Uma promessa de  um não esquecimento na interpretação do tempo que apressado não espera por ninguém.
A ternura é a nossa forma de cuidado.
Meu mantra pisciano de saborear o vasto mundo,
Tão nosso quanto outrora!

Luciana Araujo
© Todos os direitos reservados