Vinculo-me às necessidades humanas,
Mas estou assaz envergonhado
Perante atitudes que são abjetas...
Em derredor de nós há mistérios
Indissolúveis à nossa precária compreensão
E isso dá à existência um paladar insípido...
 
Diante da morte somos um nada!
Há um imenso vazio em nossas carências
E o viver é pautado por reticências...
Objetivos são sonhos impalpáveis
Que nos amedrontam a cada amanhecer
E nos fazem naufragar no vale das incertezas...
 
Em nosso íntimo não há estatutos,
Não somos capazes de desvendar
Os hieróglifos que norteiam nosso ego
E nos achamos dízimos das próprias consciências
Que desconhecem os caracteres intrínsecos
Que fazem moradia em nosso âmago...
 
É traumatizante tentar entender
O que em nós parece tão cristalino...
A ótica é ofuscada por pernilongos
Que são invisíveis e padrastos
E nos atolam nos lamaçais de um destino
Antiético às aspirações que nos absorvem...
 
O homem é a mais terrível das incógnitas!
As equações que nos formulam
Apresentam um produto deveras dissociado
Do universo bipolar que nos mantém
Vivos ou mortos numa atmosfera peçonhenta,
Porém concomitantemente bela e aprazível!
 
Por isso me envergonho...  Estou solteiro
Das sensações que constrangem e felicitam
Este paupérrimo cilindro que é a vida!
Entre enigmas e mistérios vamos
Ultrapassando as fronteiras do tempo
Sem a ínfima noção da terapêutica do que somos!

Ivan de Oliveira Melo
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