Queria ser apenas humano...
O sol poente derramou luz na imensidão do céu.
O crepúsculo cedeu espaço às estrelas, às sombras de inspiração lúgubre.
O retrato convidou-me, perguntou-me se ainda vivia,
Refletiu humanamente que sou apenas lembranças, recordações,
pensamentos de uma tenra infância, um ideal de porvir.
Tudo me parece distante,
Como que a existência me fosse estranha.
Percebo que não sou desse tempo,
E encontro-me findado, enclausurado num instante incerto.
E sinto quase inveja do exalar das flores,
Exibem-me vida em abundância, a fartura.
E sou tão repleto de fome, admito
Que me sinto inferior, indivíduo frágil, inócuo.
Sou um fardo à morte,
Resisto à sua força, não pereço,
Sou peça imortal no tempo,
Castigado por um viver eterno.
Sou pedra à expiação da ação dos séculos,
Sou prova da natureza a enfrentar o homem.
Desisto, não sou mensageiro de um futuro vindouro,
Não queria a palavra profética, o dom dos oráculos.
Quero o instante presente, sentirei depois o passar das épocas.
Agora, queria ser apenas humano!
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