Na penumbra silenciosa de um arquivo
Um Requerimento apaixonou-se loucamente
Por uma linda Procuração.
Ela, que de há muito procurava
Alguém com aqueles requisitos,
Imediatamente deu-lhe plenos poderes,
Legou direitos, cobrou deveres
E encerrou sua procura.
Ele adorou sua linguagem,
Pontos, vírgulas e margens,
Uma beleza de documento.
Apresentou seus dados:
Estado civil, gaveta, prateleira,
Fez promessas de amor pra vida inteira
E, mui respeitosamente,
Requereu a sua mão.
 
Ilustríssima senhora Procuração
Eu, Requerimento, brasileiro, solteiro,
Residente à gaveta número sete,
Pasta Documentos Pessoais,                                           
Solicito, para fins matrimoniais,
Que me seja concedida a sua mão...
 
E nestes termos pediu
E lhe foi dado deferimento.
 
                 Algum tempo depois da improvável união
                 Surgiram papéis, minutas e rascunhos
                 Que eram fiéis testemunhos
                 Da incontida paixão.

Algumas pinceladas de humor porque, afinal de contas, na vida tudo não é apenas amor, sofrimento e dor. Qualquer semelhança com o POEMA MATEMÁTICO do Millor é mera coincidência.

Natal, dezenas de anos atrás

Jota Garcia
© Todos os direitos reservados