Acredito, acredite...

 A coisa mais fácil nessa vida é acreditar. Eu acredito. Se pensarmos bem, num cômputo geral todo mundo acredita. Poucos são capazes de levar a termo o que ouvem ou até mesmo enxergam antes de acreditar. É mais fácil ou menos penoso, vai de quem acredita. Eu acredito. Acredito de pé junto. 


Acredito que tem gente boa, gente fina, de primeira. Gente que pode, mesmo sem saber até quando, emprestar sem cobrar de você a cada segundo que passa depois do ato. Gente que tem brio e brilho, gente que é gente sempre, sem virar bicho, gente que sofre de verdade por causa das mazelas do próximo, gente que ajuda sem nada esperar. Gente que enxerga além da sua cara maquiada e roupas de marca. Gente que vê e não somente olha. Gente que É mesmo, e não somente  fala que é. Acredito.


Acredito que tem homem de verdade que assume os calos nas mãos e a cara lavada ao invés de fazer pose de retrossexual e no fundo ter um big metrossexual enrustido. Acredito naqueles aos quais apetece cortejar uma mulher pelo melhor que ela possui em si, capaz de abrir a porta do carro, capaz de levá-la pra jantar e degustar um bom papo além de um bom prato e não galinhar por causa de um belo par de nádegas e coxas. 


Acredito que tem gente que solta lua e estrelas no olhar ao invés de fogo consumidor que faz tudo virar cinzas. Acredito que promessas ainda são cumpridas, que palavra tem peso e valor pra quem as leva a sério e não somente as lança ao vento. Acredito nas pérolas que a gente pode encontrar pelo caminho mesmo quando, muitas vezes, elas se revelam comida de porcos.


Acredito, mesmo que você não me acredite, que tem lobo que se veste de lobo mesmo. Que não sai desfilando pele de cordeiro por aí e traçando pela goela abaixo tudo quanto é ovelha do caminho. Que sobe nos púlpitos da vida e vive o que lá despeja da boca. Que vê um quase agnóstico no banco e consegue vê-lo também fora do banco. Acredito que tem irmão de verdade em ato e fé, que não mente em benefício de si e de outro, que não é capaz de chegar na frente de um agente e mentir deslavadamente contra aquele que ele mesmo chama de irmão. Que não usa a graça pra justificar putaria, achando, inutilmente, que essa não vai gerar uma alta conta.


Acredito, acredito, acredito. Até o dia que levo uma baita bordoada no meio do nariz! Nesse momento, nesse exato momento, entendo que acreditar é via de mão dupla, se você atravessa em lugar proibido o choque pode acontecer e o pior pode ser fatal, e quando ele não é, no mínimo te deixa marcas pro resto da vida. As marcas trazem sempre o pior pra memória e depois delas começa a fase da descrença e, finalmente, da pergunta inevitável - como posso continuar a acreditar agora?


Cris Campos

Cris Campos
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