SHAKESPEARE APAIXONADO

Sabe   amor:  sem  mais  te  ser,  sem  mais me  seres,

és  hóspede  certa  do   meu   trauma.   

Perdeu-se  aquela  inspiração,

perdeu-se   um  sutil   destemor  do  amanhã,

aquele   todo  em   nós    que   se   amparava.

Foi  então    que  contigo    tudo  se  foi,

alguma coisa que de resto guardávamos,

que  era  leve,   que  palpitava   junto

e   que  por  isso  era   tão  raro . . .

 

Tão   raro  quanto  a  perecível   flor do  desejo,

ao  sobressalto  do  que  podia  nos    ser   suprimido,

e  foi.  Em  que  pétala   a    pétala   oscilou   em  queda,

e caiu  na  exalação    de   um  - bem  querer,

ao  embalo  do pérfido  -mal   me quer-  como 

o  eclipsar   que  era,  do   que  absoluto     fomos,   

naqueles   restos   em   pedaços . . .

 

Leve-os  então  agora,  na  extensão 

de  nossas  insolúveis  distâncias,

pairando  pelas   doces  paisagens   

que   encantava-nos    levitados.

E  com  todo  aquele   pouco, 

mas  imenso  e  imerso  em  nós . . .  a  meditar. 

Recordando    em   agônico  lampejo,

que  daquele  precário  bem,

tudo  vai   dar   apenas  nisto: desapego,

vã   consolação   de  cicatrizes. 

Desperdício   de  pedaços;  todos  . . .  tão   nossos !!!!!!

 

 

 

 

 

versejando ( ao estilo de Pessoa )
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