Ouve! É um presságio! Assim como hinos ressoam,
Tu serás oferecido como sacrifício ao banquete da loucura!
Diante das brumas que cegam a alma, esta névoa escura
A qual oculta a mutilação e os cadáveres, onde vidas escoam.
Não importa quem está certo ou errado, quem tem amor ou ódio,
Importa matar. O ser humano, em essência, se apraz
(Único animal a fazer isto) em fazer sofrer seu semelhante e a paz
É algo ilusório e que dura apenas por breve episódio...
A forma de matança é irrelevante. Vozes ecoam em coro
Em cânticos de morte, velórios espirituais que enviam tudo ao nada.
O sofrimento, a agonia, podem vir tanto do tiro como da espada
E por milênios o sangue pingou como em ampolas de soro...
Almas a rodopiarem em turbilhões extáticos, elétricos
Onde anjos se mesclam a demônios em estranha coleta.
Guerra oculta, aterrorizante, negra, dolorosa, secreta
Onde os instintos simiescos vêm à tona em objetivos tétricos.
Tortura eterna, fúria sem motivo, inocentes pecados...
Contra isto, quem há-de providenciar formidável defesa?
Sinto como se fosse um embate entre o ambiente e a natureza
Onde até o solo se torna inimigo e quem serão os derrotados?
Máquinas da morte as quais fabricam armas e sangue...
Meus olhos nunca se acostumam aos horrores desta maré.
Quando morrem os ideais e a luta continua, terá morrido também a fé?
Vê!? Estás passando por pântanos sanguinolentos e não um mangue!
Corações forjados no mal e protegidos contra o bem por uma carapaça.
Durmo sonhando com a paz e acordo em um mundo de guerra...
E mesmo sem conflitos, a morte espreita silente e súbito, berra
A melodia final como se fosse um demônio porta-desgraça...
Oh! Este vinho parece tão saboroso! O vinho sangrento da morte!
Mas quem prová-lo terá sucumbido aos primevais instintos
De matar e sentir na vingança o doce do licor e o amargo dos absintos,
Porque a ânsia disto é tentadora, formidável, forte...
Direi onde fica esta terrível e tenebrosa morada da carnificina:
Fica onde apenas o inimaginável e o sincero pode alcançar.
Fica no recôndito, nas profundezas inacessíveis de um estranho mar.
Fica na alma humana, na ideia humana, esta febril assassina!
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