Lá, na orla mansa da floresta,
Onde o melro e a cotovia fazem festa,
O curió canta ligeiro e a araponga vai gemer;
 
Onde  murmuram preguiçosas as cascatas,
Onde um hálito agridoce sai das matas,
E o bacurau anuncia o anoitecer.
 
 
sob, a frondosa sombra de um carvalho,
Que recolhe as gotas finas do orvalho,
Onde o cedro e o rododendro vão crescer;
 
Entre os lírios, as begônias e as cordélias,
Entre um mar sem fim de rosas e camélias,
Ali nesse lugar plantei você.
 
 
E brotaste linda flor singela,
Te tornaste um botão, rosa amarela,
O mais lindo que já houve num jardim;
 
Eras ainda um botão tão pequenino,
E de repente, assim quis o destino,
Te colheu e afastou de mim.
 
 
Por onde andaste então minha camélia?
Por que tanto te esperei  loélia?
Por que voltaste assim misteriosa?
 
Teus espinhos me causaram espanto,
Tuas pétalas cresceram tanto,
Nem pareces mais a mesma rosa.
 
 
E tendo eu te visto assim perdida,
Náufraga a vagar na vida,
Sem saber o que te aconteceu;
 
Tonta e inebriada rosa nua,
Tua sublime palidez à lua,
Meu olhar enternecido comoveu.
 
 
Mas não mais me reconheces, flor perfumada,
Para ti, significo nada,
Nem suspeitas do meu imenso amor;
 
Não percebes minha voz chorosa,
Sou eu! Teu pai menina-rosa!
Fui teu jardineiro minha flor.
 
 
Mas nem o tempo, nem tuas andanças
Apagaram nossas semelhanças,
Não percebes tu? de mim surgiste!
 
Oh minha filha, minha flor, minha musa!
Por que te vejo eu assim confusa?
Por que te encontro eu assim tão triste?
 
 
Tu nem notas o quão pesaroso fico,
Não me ouves quando te suplico,
E não vês que meu sorriso morre;
 
Mas tua espécie flor, não me nega a raça,
Nas tuas veias o meu sangue passa,
Em teus ramos minha seiva corre.
 
 
 
BRUNO
 
 
 
Rio, 22 de maio de 2003

BRUNO
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