Carta pra ela

Eis, pois, o grande e insondável mistério que nos cerca...

 

Qual predador feroz, nos espreita nas sombras, sempre pronta a dar o bote.

A morte.......

 

Todavia, estaríamos nós, aptos a, de alguma forma, ludibriar nosso algoz?

Por ventura, em idos tempos, já o teríamos feito?

Estaríamos ainda, fadados a faze-lo, sempre?

Seria esse, um lugar comum, contanto que disto, não guardasse-mos nenhuma recordação?

 

Aqueles que muito afirmam, pouco convencem; nada comprovam;

Aqueles que não acreditam que algo exista, tampouco recusam-se a acreditar que nada deva existir;

 

Tem de haver algo;

Eu sinto nos meus ossos...

 

Quiçá, Lucy, há três milhões e meio de anos atrás, já tecesse tais considerações ao atravessar ereta, pela primeira vez, a savana africana.

Mesmo os Neanderthalenses já enterravam, há cerca de trezentos mil anos, seus entes falecidos, com os utensílios destinados à caça e às outras tantas necessidades básicas do dia-a-dia glacial. 

Que outro objetivo, senão dotar o extinto, dos subsídios necessários à sobrevivência na outra vida?

 

De onde surgiu essa crença?

Ou seria uma certeza?

O Valhala, os Grandes Campos de Caça, etc, etc, etc.

 

A questão está profundamente arraigada em nossos genes, no inconsciente coletivo, integrando indissociavelmente a natureza humana...

 

“De onde viemos, p’ra onde vamos?”

Bla, bla, bla, bla ...

 

Atrevo-me a me aventurar por caminhos tão temerosos, abordando  tema tão controverso.  Eu, herdeiro da promessa divina, para conceder-te um rápido vislumbre do amplo espectro de variações  dessa multi-facetada personalidade que me atormenta.

Minha herança e minha maldição...

 

Quando olho para as coisas que escrevo; Só posso estar louco!

 Completamente louco!

 

Todavia, basta um único dia longe de ti e tudo começa a fazer sentido. E vem a certeza cabal de que tudo não passa da mais lídima expressão da verdade.

De que outra forma (e nós já falamos disso), explicar esse imperioso sentimento que me liga à tua existência?

Essa coisa que me toma, à que me entrego indefeso.  Esse arrebatamento que não cabe, nem se explica numa única existência.

E que já me tinha , antes mesmo que tu existisses ou que eu fosse (se é que p’ra mim, algum dia, não tenhas existido)...

 

Estaria eu possuído?

 

E se assim  o fosse, o seria de tal forma, tal  qual o foi para o infeliz em Geraaza, cuja entidade respondeu ao Senhor:

 

_ Meu nome é Legião, pois somos muitos!

 

 Estaria também eu, malgrado meu, entregue em muitas mão...e todas elas, seriam loucamente apaixonadas por ti!

 

Mas não:

Tu, e somente tu, és a única entidade a me possuir. 

Como jamais, ninguém foi possuído;

Como jamais, alguém pertenceu a alguém!

Assim tu me possuis   e eu  te pertenço.

Por que, a ti, eu fui entregue;

 

Por inteiro e completamente.  De forma sobrenatural, irracional e irreconhecívelmente indizível;

 

Tomaste minha’lma, preencheste o meu corpo e pelos meus poros, exalas o teu cheiro!

E eu, tonto, inebriado e confuso, me entrego ao teu feitiço, me abandonando às tuas vontades, prostrado aos teus pés...

 

e me rendo...

 

 

Destarte:

 

 

Como vc mesma pode comprovar , seria impossível p’ra mim, seguindo a tua sugestão, buscar conselhos, onde quer que fosse (de quem me aconselharia?)

 

E, a que conselhos, ainda que os encontrasse?

Por ventura, os ouviria eu?

Com certeza, não aos que me afastassem de ti!

Os outros, entretanto, de nada me serviriam.

 

Mercê de um tal dilema...

 

 

Você pode (se é que nada te impede). Uma pessoa amiga, uma mulher de mais de quarenta anos, que já viveu, a quem eu não confunda.

Conta tudo a ela.

Pede conselhos p’ra vc e socorro p’ra mim!

 

E explica p’ra ela que eu não tenho culpa!

 

Laplace afirmou que “...(sic) uma inteligência conhecendo todas as variáveis universais em determinado momento, poderia compor numa só fórmula matemática a unificação de todos os movimentos do Universo. 

Consequentemente deixariam de existir para esta inteligência o passado e o futuro, pois aos seus olhos todos os eventos seriam resultantes do momento presente.”

 

 Traduzindo: Existiria previsibilidade mesmo na imponderabilidade absoluta do Caos.

 

Jesus disse que nem uma folha cai do alto de uma árvore, se Deus assim não quiser ou permitir...

 

Nossa história portanto, já estaria escrita desde, há quatro bilhões e meio de anos, quando a Terra, ainda recém nascida, espreguiçava no regaço do Universo;

E nós, nem ainda existindo e, já presos nas redes do destino!

Caminhando inexoravelmente para o dia do nosso encontro!

 Bem antes que os mares se tornassem desertos e os desertos, oceanos;

Enquanto as montanhas se erguiam do leito dos mares, como se a própria Terra levantasse os braços tentando tocar os céus!

Minha alma latente tentava já, tocar a tua!

 

E se esse amor já era, antes mesmo que o mundo fosse!

E de outra forma não poderia ser!

 

E assim é!

 

O que poderia eu, contra esse vaticínio pré-cataclismico?

Sem outra alternativa...

 

TE AMO!!!!

 

A propósito: Cuidado com as minhas palavras.  Elas são a minha mais poderosa arma.  Saem da minha boca como espadas de gume afiado, vão a frente. Tem vida própria.  Eu sou mais vítima delas, do que culpado!

Mas elas vão, por conta delas mesmas, declarar guerra contra você. Vão te cercar, te sitiar, disparar contra tuas muralhas (umas vezes como setas ligeiras, direto ao alvo, noutras vezes, como cimitarras, pesadas e tortuosas, fazendo curvas, mas sempre vão te atingir).

Enfraquecendo pouco a pouco tuas defesas, vão invadir a tua cidadela, tomando teu castelo e abolindo o teu rei,  te eleger minha rainha, p’ra meu próprio horror, te transformando em minha escrava.

 

Trocando em miúdos:

Você, sempre tão doce, cuja única preocupação é não me fazer sofrer;

Eu, egoísta, sofrendo por minha própria culpa, não querendo te arrastar para esse poço de dor!

Mas fazendo isso, todo o santo dia!

 

“Infeliz homem que sou (dizia Paulo), pois aquilo que quero fazer, eu não faço.  E aquilo que não quero fazer, é o que faço”!

 

Isto posto:

 

 

 

Deus me PERDOE, se eu não te amar, tanto quanto eu acredito que te amo;

 

 

E me PROTEJA, se eu te amar ainda mais do que isso...

 

 

 

Bruno, 23 de agosto de 2005 – 15:53 horas

 

Revivendo antigas lembranças...
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