Já era 11 da noite
E o boteco tava fechando,
Só tava eu e mano Gordão
Tomando cerveja no balcão.
 
O dono do bar,
O mano português
Tava agüentando nóis desde as seis.
 
Chegou um assaltante no bar
E começou a falar:
“aí, perdeu. Vai passando celular,
Chave do carro, corrente, colar,
Que avisar a polícia
Um tiro na cabeça vou dar”.
 
Eu já tava chapadão, o mano Gordão
Ficou assustadão.
E o português se escondeu
Atrás do balcão,
Tremendo com mó medão.
 
Foi quando o assaltante
Puxou o três oitão
E falou nervosão:
“aí, tô com pressa irmão,
Passa logo os bagulho
Senão vou pular o balcão
E matar o tiozão”.
 
Eu já tava lokão
E quis dar uma de fortão:
“aí truta, você não tem moral com nóis não.
E vaza logo, tá ligado?
Porque além de nervoso tô chapado”.
 
Pra quê? Foi só eu falar
Pro cara atirar.
Mas não me matou:
Deu um tiro no meu pé e falou:
 
“não matei você de dó,
Mais quero ver você
Andar num pé só”.
 
Depois disso o mano Gordão
Perdeu o medo:
Avançou no ladrão
Que ficou sem reação
E os dois caiu no chão
 
O Gordão foi liso:
Caiu em cima da arma
E tacou ela no piso.
 
Eu peguei a arma do ladrão,
Engatilhei e atirei.
Acertei o Gordão,
Que já inconsciente
Caiu no chão.
 
Eu fiquei em choque,
Mas o cara deu sorte.
Aproveitou a confusão
E fugiu mó rapidão.
 
Mesmo baleado
Atirei nele, tá ligado?
Aí deu mó aflição
Vendo o camburão
Dobrando a esquina
Com a sirene ligada
Num mó somzão.
 
Foi aí que pensei:
Tô ferrado irmão,
Vou voltar a ver meus
Parceiros na prisão.
 
Parei e sentei no chão,
Esperando os polícia
Me enquadrar
E me jogar no camburão.
 
Os polícia viu o que tava pegando.
Saíram do camburão
E já chegou me enquadrando
E me revistando.
 
E como não queria voltar pra prisão,
Já fui dando explicação:
“Seu guarda, não me prende,
Você não tá vendo que sou inocente?”.
 
E o polícia foi falando:
“então o que esse três oitão
Tá fazendo na sua mão?
Aposto que você atirou
No próprio pé
Só pra dá um migué”.
 
Voltando no assunto,
Eu já fui preso por que
Roubei um presunto.
Um presunto Marba
Que roubei no
Mercadinho da Marta.
 
Pro meu azar
O papo não colou,
E pra completar
O bar do português fechou.
 
Os polícia me jogou no camburão,
E me levou pra prisão.
Depois fiquei sabendo
Que o mano Gordão
Não resistiu a caminho do hospital
E acabou morrendo.
 
Acabei sendo condenado
Por um crime que fiz
E por um que não fiz.
O que fiz não me arrependo,
Pois não tenho dó de ver um verme morrendo.
 
O que não fiz
Me arrependo de coração,
Porque não estou feliz
Por matar
O mano Gordão.
 
Merecia não só levar
Um tiro no pé,
Como também ter morrido no lugar
Do meu amigo de fé.
 
Hoje tô ferrado:
Vou ficar preso 10 anos,
Ou 5, se meu comportamento
Tiver mudado.
 
Mas como desgraça pouco é bobagem,
Tô dividindo cela com 3
Assaltantes mó trairagem.
 
Hoje escrevo essas rimas
Esperando liberdade
Por “bom comportamento’.
E pra quem tá lendo
Vai o recado:
Nunca reaja a um assalto,
Tá ligado?

Primão
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