Uma breve catarse aristotélica

 Todo mundo que passa na vida da gente é importante. Sim, mesmo que já tenha passado, ainda é importante. Por eu acreditar que somos a soma de todos os acontecimentos que nos acrescentaram ou subtraíram vida, a pessoa que fez parte, ainda está na equação que originou o resultado do qual fomos transformados.
Tenho nas últimas semanas iniciado um processo dolorido de catarse profunda por vontade própria para ser uma pessoa melhor para mim – e conseqüentemente, para os outros. O primeiro passo meu foi assumir as imperfeições e focá-las uma a uma, sem pressa para “arrumar a casa”. Como é difícil saber que fazemos algo para agradar e acabamos quase sufocando o outro! Tive um exemplo familiar semana passada aparentemente insignificante que me fez despertar: minha mãe fez uma pizza caseira e despejou orégano além da conta. Eu percebi ali, exatamente ali, que apesar do orégano fazer parte dos ingredientes da pizza e de eu adorá-lo, o excesso daquilo que gosto não caiu bem! Apesar do ingrediente necessário  estar acima do desejável sem querer, foi ali que  eu vi - naquela situação sem muita reflexão -  o quanto muitas vezes eu exagero porque também gosto umtanto  assim  de agradar quem eu quero bem! Consertar nossas imperfeições é sempre possível para quem quer mudar! E o primeiro passo é sempre o mais difícil de dar, porque temos que reconhecer o nosso erro, temos que assumi-lo 100% sem se justificar – temos que estar atento a todos os nossos atos, e isso dói, é desconfortável, incômodo mesmo. Só que o fantástico da emersão da catarse – paradoxalmente - é a libertação!  A gente passa a gostar mais de si dia após dia... e aprende-se que se  recolhendo mais,  só temos  a ganhar com os que queremos próximos... e que se expondo mais, quem se recolhe são os outros! Não quero dar valor as importâncias da minha vida só depois de perdê-las como muita gente faz!  Meus atos superlativos muitas vezes são uma celebração imediata do quanto o outro que celebro, é importante e reconhecido por mim e para mim! Mas reconheço que os demais exageros meus eu estou trabalhando com seriedade para equilibrá-los numa calibragem menor.
 
É preciso muita disponibilidade para descascarmos  as camadas que criamos no curso da vida para nos vermos sem verniz algum. É preciso enfrentamento sem fraquejo, sem desculpas, sem recuo, sem estorinhas e sem dó! O olhar deve ser sempre para dentro de nós! Cometer um erro geralmente é um ato só, já repará-lo, requer vários movimentos da gente... E o duro aqui é quando não encontramos dentro da gente exatamente aquilo que pensávamos de nós! –Parar de esperar dos outros tantos apontamentos ou desapontamentos faz de nós seres mais livres! Pois esperar algo de si, é fundamental, já esperar dos outros, nos condiciona a dar poder ao outro para nos decepcionar.  Sem desculpas e sem culpa, vá procurar a alegria dentro de si... porque se aqui dentro você não a encontrar, não será no outdoor da esquina que você encontrará! A busca é individual e cada um encontrará o seu momento para iniciar esta jornada... e quanto ao resto? Ah, o resto é só propaganda eleitoral!
  
Quando somos abandonados pelo mundo, a solidão é superável;
quando somos abandonados por nós mesmos, a solidão é quase incurável. Cuide-se!

Ana Luiza Alves Lima
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