Sei que é demais te pedir
Para comigo mudares de identidade,
Por isso não o farei.

Quero, apenas, através destas linhas,
Que saibas de verdade
Que ando meio taciturno

E ao mesmo tempo, disperso
E vejo-te além do limite do universo,
Levando-me, desintegrado, feixe de luz.

E me sinto, deveras, acuado
Como que condenado,
Ao perigo atual da rua, exposto.

Pensa-te haver fugido do meu rosto;
O amor, agora em descomunal turbilhão,
Avoluma-se-me meu coração.

Escusas, peço-te por engolir a palra,
Diante de tuas palavras nexas.
Quem sou eu pra mapear tua liberdade?

Quão escasso sou de matérias
A ponto de nutrir tua veleidade!
Esta que ostenta as mulheres em júbilo
E torna embevecida a sociedade.

Eu que, nem a Maiakosvki, páreo faço;
Pois que, apesar da distância do tempo,
Nem a fumaça de um cigarro
Oferecer-te, posso, a contento.

Já que nem vivo
Todavia, literalmente, passo
Alheias horas, feito dependente de vícios
Que involuntário anima o universo lasso.

Contudo, a esta incongruente e passional filosofia,
Aos olhos do mundo hodierno, já pretérita,
Não carece que te afilia;
Amo-te além de decantada forma estética.

Não obstante, o desnível engendra-se
Tenaz; eu que o pensava exorável,
Quase uma linha imaginária, tenra.

Antevejo ascender célere
E divisionar a intimidade de nosso mundo inefável
Em nações de arriscado acesso.

Olhos meus tão absortos.
Lá fora todo interior; cá dentro, eu possesso,
Desnudo-me aqui obnóxio e tolo
Perante o abismo de teu intelecto.

Vivo condescendente, aluado e bobo
Estes dias de hoje, em debutante delírio,
Visto que está em jogo
O amanhã especioso, plural e magnífico.

Curitiba