Fui criado numa sociedade machista,
que não aprendeu a dizer "eu te amo",
e mesmo que ainda se diga,
meio que por sinismo meio que por engano,
jamais se deixa claro o que se sente.
Fui criado numa sociedade que mente,
que esconde a fraqueza,
e para ser franco,
não há no mundo maior beleza,
que se reconhecer ser humano.
Fui criado numa sociedade tradicional,
onde não há o diferente,
e por se reconhecer sempre o igual,
não a nada que nos surpreende.
Os hinos, os ritos, os mitos,
vigoram pelos anos,
assim como os medos os credos e os enganos.
Em todo este tempo,
sempre acreditei que meu lamento,
era coisa de fraco,
mas como tortura-me ser isento,
reconheço tudo o que faço,
e assim me descubro,
mesmo com todo o cansaço.
Hoje mudei,
e o passado não passa de um retrato,
na parede da sala,
hoje minha voz não cala,
mas realça este meu relato.
Hoje olho para o lado,
e aceito meu semelhante,
como um ser diferente,
assim como eu incompleto e inconstante,
sendo homem sendo gente.
Que busca a mudança,
procurando a evolução,
e que deixa de herança,
muito mais que tradição,
uma nova idéia de esperança,
para um velho coração.
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