‘’Seus olhos tão verdes, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;
Seus olhos tão verdes, tão belos, tão puros,
Tem meiga expressão,
Mais doce que a brisa, mais doce que o nauta
De noite cantando, mais doce que a flauta
Quebrando a solidão.
Seus olhos tão verdes, tão belos, tão puros,
De vivo luzir.
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.
São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.
Seus olhos tão verdes, tão belos, tão puros,
Assim é que são:
Ás vezes luzindo, serenos, tranqüilos,
Às vezes vulcão!
Às vezes, oh! Sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece,
Me fazem chorar.
Assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
Desperta a chorar;
É mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa – a pensar.
Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu,
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto como um véu.
Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram sem causa
Um pranto sem dor.
Eu amo seus olhos tão verdes, tão puros
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
Com tanto pudor.
Seus olhos tão verdes, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.’’
 
Autor: Clementino Sanches Netto

Carla
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