Confidência

 
Seria segredo...
O mais deplorado segredo.
Infeliz – o sonho não bastou.
O tempo vinha depressa
Tão indescritível quanto aquele desejo de que
há anos atrás por ti sentia
E sabia que sim
Sim! Sentia a cada dia com intensa repetição.
Rotina.
O lábio...
Queria como uma criança insistente esse lábio
esbarrando-se nos meus,
como quando em outras poucas vezes fizeram-no.
Lembro-me...
Os eternos segundos aguçavam,
minuciosamente, todos os meus principiantes sentidos,
durante aqueles displicentes beijos.  
Tê-la...
Era tudo que eu conseguia produzir no meu R.E.M.
E nada parecia impedir que isso se transportasse
para meu “recém-nascido” mundo sentimental,
a não ser o próprio.  
E ele, “o próprio”, impediu.
Caiu...
Sobre mim caiu o maior e mais profundo dos arrependimentos
que pude carregar até agora.
Ironicamente, aplaudia-me.
Sarcástico...
Parecia zombar de mim – teu olhar,
então agora acompanhado e correspondido,
ofensivamente me dizia um discreto adeus.
Meus olhos, incrédulos,
 também agora acompanhados e correspondidos,
sonhavam.
Longos anos...
Constantemente, as ruas dessa cidade mentiam.
E passos repetitivos escreviam histórias.
Uma vida – vida pacata, certas vezes ingrata .
Contos, cantos, flores e amores;
Viagens, vontades, mentiras, traições;
Medo, fim e recomeço.
Ahh! Longos anos...  
Anos que não puderam apagar...
Eu ainda podia sentir, mesmo que adormecidos,
as mesmas vontades e desejos.
Como que se pudesse incubar um sentimento,
Eu ainda sentia!
E sabia que sim!
Quando a vi tão perto novamente...
Os lábios...
Não podia parar de olhá-los.
O ar...
Era como se eu precisasse daquele ar
E não sabia.
Tão próximos – quase que irresistivelmente,
eu posicionava meu olhar em tua direção,
durante toda tua indiscreta presença.  
 Repentinamente,
Os lábios...
Teus lábios, meus lábios.
Não esbarrando-se ainda, mas
 displicentemente unindo os rostos  
Como foi há anos atrás.
A partir desta hora,
cada dia, a todo momento
eu tenho representado.
como paixão infantil.
Intrepidamente eu tento disfarçar.
Inútil...
Seus gestos, tua voz, teu olhar,
Todos os teus movimentos – tudo que vem de você.
Não tem me deixado em paz. 
Seria segredo...
Por mim, seria o mais contemplado segredo.
Mesmo sabendo que nossos percursos são inversos,
eu sei, que assim como promessa, essa história,
 ainda que segredo - o mais confidencial dos segredos,
jamais será apagada.
 
Breno Malta