DIAMANTES SEM A LUZ DO GIRASSOL

             
 
 
 
Orvalhos do crepúsculo pairam e vertem do céu:
Perdas e dolências profundas
Cravam seus ferinos dentes
Nos sobreviventes da chacina nefanda, dantesca, absurda, cruel!
 
 
O vírus do desdém aos plebeus e ribeirinhos da vida humana
Grassa, de maneira pensada, insana,
Célere, exultante, tirana;
Enquanto a nobreza da monarquia de Pandora
Chora copiosas cachoeiras auspiciosas de alegria,
Camufladas em acuidosos e sardônicos
Vulcões indômitos de revolta, ira?
 
 
Ah, a empresa dos magos da ácida chuva,
Querem transformar as presas da eterna cavalgadura
Em falanges produtoras dos sortilégios da era da impiedosa voragem
Ininterrupta
E em devotados operários das ditosas alamedas da rapina profusa,
A fim de que, após o gozo, os magnos timoneiros da aleivosia soberana
Possam transmudá-los em cadáveres sem lápide nem sepultura,
Muito menos hosana alguma.
 
 
Ah, mas estas desventurosas criaturas
São, também, jóias que vicejam
E, ao serem esmeriladas,
Tornam-se airosas pedras preciosas da Mãe-Natura.
Entretanto, com o fluir da sua longa e dura andadura,
Perdem o brilho da candura,
Comutando-se em diamantes sem a luz do girassol:
Tétrico mar imensurável da desesperança,
Que, aos quatro cantos,
Brada, berra, devora e expande
A sua presença funesta, soturna, medúsica, a peçonha da Preta Mamba!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
 
 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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