Missiva para Hegel

Hegel, amigo se me permitir...
Apesar de temer que o meu falar venha a inverter o visar, desenho estas letras no intuito de suprassumir minha própria escrita e aventuro-me nela, procurando encontrar o eu que somos nós. Quiçá por caminhos distintos e em épocas hitóricas diferenciadas, mas tendo em mente a dialética do reconhecimento, o percebo e o concebo frente a mim quando da angústia que em tempos diversos nos atingiu, por separado, vem no agora universal e faz de nós o enquanto que. Longo foi o tempo transcorrido, se é que o mesmo não é atemporal - eu não sei - onde no seu, a era das revoluções indignou seu espírito, e no meu, fez deste debater-se  na "in-revolução". É neste contexto que reflito sem encontrar a consciência, sem encontrar o saber, apenas  deparando-me  diante da verdade imediata, a mesma que em seu tempo já o incomodou. Hoje, enquanto o eu duvida para conhecer, ou tenta duvidar, o sujeito ressurge possuído de desrazão fazendo da sabedoria, aquela que penso enquanto capacidade de viver sem ser dominado ou dominador, o próprio impossível. Feito enchente de contrários banham a realidade. Como seca de contradições a permeiam de impulso morte, e assim sendo me pergunto... o que fizeram da Filosofia? Para que tanta cultura? Resgatando o pensar em Sócrates, não descubro o Homem. Buscando construir meu eu no eu do outro, impregno-me da dor do mundo, mundo este que traz em si o estigma do horror da existência de "crianças de rua" com quem compartilho meus momentos. Amigo Hegel, não lhe pergunto o que é possível esperar, desejo apenas conhecê-lo. De mim, a saber tenho um nome, mas ainda não sou... encontro-me aflita!
Com o respeito que merece, Emy.
 

Dialética Especulativa do Reconhecimento. Reconhecer, em Hegel, significa conhecer historicamente. Alusão à pedagogia hegeliana.

Goiânia, 1999