O velho enviou lanceiros,
Arqueiros e cavaleiros,
E os poucos que retornavam
Voltavam de mãos vazias.

Não eram as altas muralhas que os impediam,
Ou as encostas rochosas que escondiam
O feiticeiro maligno, devorador de almas,
De olhos negros, corpo forte e pele fria,

Mas uma intransponível barreira invisível,
Que deixava seus homens atordoados,
Pois, jovens e crianças, à morte se lançavam
Do alto de enormes desfiladeiros.

Se avançassem, a herdeira do velho se partiria
Ao se chocar contra as pedras, em mil pedaços,
"Ela era tão pequenina", pensava o velho,
Quando foi levada por fiéis daquela seita maldita,

Que aos poucos se espalhava por toda cidade
Proliferando como pragas em cultivos sadios,
Secando a vida por onde passavam,
Construíndo um império obscuro, obsceno e sombrio,

Pisando sobre corpos ocupados
Por uma dezena de demônios zombeteiros,
Que feito cascos secos e desabrigados,
Eram inundados por sacerdotes embusteiros

Que formavam um exército de fanáticos
Renascidos como mortos de um atoleiro,
Vertendo seus ossos sem nervos, em escadas,
Para tomar o poder, o ouro e o dinheiro.

A idade já lhe pesava as costas,
E via esvair-se todo seu reino,
E tudo aquilo o que lhe restava,
Estava sob os domínios de um maldito feiticeiro.

Ordenou a captura de três bandoleiros
Que ousaram roubar a torre maldita
Para desprezarem a Gema da Serpente
Com bebidas, prazeres e jogatina.

O maior deles estava bêbado,
E a mulher do bando mentiu para o rei
Protegendo seu desaparecido parceiro
Arrancando gargalhadas do monarca,

Soldados arrastaram até o centro da sala
O "desaparecido" terceiro elemento,
Despejou no chão diamantes e joias raras,
Para em seguida, saudar o feito dos arruaceiros.

Ofereceu riquezas suficientes 
Para construírem um enorme reino,
Se trouxessem de volta sua menina
E esmagassem o demônio feiticeiro.

Partiram, então, os dois mercenários
E a pirata e ladra do grupo,
Rumo à morte que acompanhava
O obstinado líder resoluto.

Mas não viu o retorno da filha,
O velho do enfraquecido reino,
Morto após a partida,
Traído por seus súditos e conselheiros.

R. Lemos.