Arde em meu peito, queimado pelo fogo da lembrança,
O meu coração que um dia foi escravizado pelo rosto dela,
Que, com o seu véu, escuro como a dor, escondeu o meu amor por ela
E o olhar dela, igual a uma lança abrasadora,
Furou e queimou, por dentro, o cofre aonde era guardada uma singela flor,
Que era uma recordação de um amor cuja chama já se apagou,
Mas restaram as brasas sob o amor que foi de fogo e iluminou
O dia feito noite mergulhado na dor do adeus dela,
Quando as minhas lágrimas apagaram as brasas,
Que foram lançadas pela janela em direção ao céu
E o vento soprado pela alma não as carregou,
Mas deixou que elas caíssem sobre o colo dela
Apagadas e frias não iluminam e nem aquecem mais o coração,
Arrasado e ferido, agora amargo como o fel purgado por uma paixão
E amordaçado pelo silêncio dela,
Que usa um véu simulado de dor para esconder a sua face,
Aonde escorrem gotas de lágrimas
Vertidas por seus olhos em face de seu falso luto pela flor queimada pelo seu olhar,
Com a intenção de jogar no ar, frente ao mar, suas cinzas misturadas
Com as que restaram de um amor sublime,
Que foi um servo de uma servidão louca a ela
E que cometeu o crime de nascer só para ela;
Mas a flor e o amor que morreram eram as chaves
De uma imaginária tranca da porta do meu coração,
Eternamente aberta a ela,
Feita da madeira canela, esta porta, dura e escura como a mente dela,
Mesmo aberta, era intransponível para ela,
Mas ele, ajoelhado na terra e com as mãos postas em oração,
Implorava para que se clareasse e se amolecesse a mente e o coração dela
E que ele fosse moldado pelo meu desejo de que ela me amasse
De modo que nascesse nele o amor por ele,
Mas ela, no silêncio, na distância e na escuridão que eram seus companheiros,
Como uma noite sem lua,
Quando se não vê o sorriso dela,
Crua e branca e gélida como a neve que recobria seu coração,
Fugiu dele e se apegou a outro
E eu fiquei para sempre sem o amor dela,
Que se foi.
© Todos os direitos reservados