Arde em meu peito, queimado pelo fogo da lembrança,

O meu coração que um dia foi escravizado pelo rosto dela,

Que, com o seu véu, escuro como a dor, escondeu o meu amor por ela

E o olhar dela, igual a uma lança abrasadora,

Furou e queimou, por dentro, o cofre aonde era guardada uma singela flor,

Que era uma recordação de um amor cuja chama já se apagou,

Mas restaram as brasas sob o amor que foi de fogo e iluminou

O dia feito noite mergulhado na dor do adeus dela,

Quando as minhas lágrimas apagaram as brasas,

Que foram lançadas pela janela em direção ao céu

E o vento soprado pela alma não as carregou,

Mas deixou que elas caíssem sobre o colo dela

Apagadas e frias não iluminam e nem aquecem mais o coração,

Arrasado e ferido, agora amargo como o fel purgado por uma paixão

E amordaçado pelo silêncio dela,

Que usa um véu simulado de dor para esconder a sua face,

Aonde escorrem gotas de lágrimas

Vertidas por seus olhos em face de seu falso luto pela flor queimada pelo seu olhar,

Com a intenção de jogar no ar, frente ao mar, suas cinzas misturadas

Com as que restaram de um amor sublime,

Que foi um servo de uma servidão louca a ela

E que cometeu o crime de nascer só para ela;

Mas a flor e o amor que morreram eram as chaves

De uma imaginária tranca da porta do meu coração,

Eternamente aberta a ela,

Feita da madeira canela, esta porta, dura e escura como a mente dela,

Mesmo aberta, era intransponível para ela,

Mas ele, ajoelhado na terra e com as mãos postas em oração,

Implorava para que se clareasse e se amolecesse a mente e o coração dela

E que ele fosse moldado pelo meu desejo de que ela me amasse

De modo que nascesse nele o amor por ele,

Mas ela, no silêncio, na distância e na escuridão que eram seus companheiros,

Como uma noite sem lua,

Quando se não vê o sorriso dela,

Crua e branca e gélida como a neve que recobria seu coração,

Fugiu dele e se apegou a outro

E eu fiquei para sempre sem o amor dela,

Que se foi.

Paulo Roberto Varuzza
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