Empurrando a vida...
Faz horas que venho
driblando a morte.
Empurrando
Com a barriga,
Evitando a rua,
Ficando em casa.
Das tantas ameaças
Que enfrentei,
Essa é a pior delas;
O inimigo é invisível,
Democrático e
Universal.
Difícil sobreviver.
Faz dias que venho
Driblando a morte
Com vontade de viver.
Se conseguir,
O que será um milagre,
Alguma coisa eu aprendi:
Não sou o gigante
Que pensei que era,
E, ao perceber-me assim
Tão diminuto, pude ver
O meu real tamanho.
Tirando a máscara
Enxerguei a arrogância,
A petulância, a indiferença,
A hipocrisia, o desamor e
minha insignificância.
Então, desesperado
Agarrei-me à compaixão.
Compaixão por mim mesmo.
Mas nem isso há mais.
Não é mais possível
empurrar com a barriga.
Então olhando ao céus
Murmurei, entre dentes:
Senhor, perdoai minha
Estúpida ignorância
Ela é grande demais
Para empurrar a vida
Com a barriga...
Porto Alegre, 10/04/20 José Carlos de Oliveira
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