PROMESSA AO SETENTA NOVE
O setenta nove está revoltado!
O setenta nove ao setenta oito chegou e
Mais um ano lhe acrescentou
Olhou-me e logo pensou:
-“Olha  o que me calhou”
 
Há dois dias que mora em mim,
Levei-o a passear,
Sentei-me num banco de jardim,
Para dormitar,
Foi quando o setenta e nove aproveitou,
Aproveitou meu cabecear,
Para perguntar aos meus anos anteriores
As alegrias que tinham tido comigo.
 
Gerou-se grande algazarra,
Todos queriam falar,
Dar informação!
 
Os entre dezoito e vinte cinco cinco
Disseram que foram de grande farra,
Os até aos cinquenta os de trabalhar e amar,
casar e turistar pelo mundo,
ver, sentir, provar muito de bom,
doscinquenta aos setenta foi um aguenta,
um aguentar a situação,
depois a evolução para vida mais lenta,
lenta, já não a correr, só andar,
depois só quase a arrastar,
a caminho do arrastar.
Acordei,
Algumas coisas ainda apanhei,
O setenta nove, só com dois dias de vida,
Estava de má catadura,
Dizendo-me que os outros tinham comido a carna
E que ele tinha que rilhar os ossos.
Perguntou-me o que estaria disposto a fazer por ele,
Disse-lhe, sem grande convicção,
Que faria tudo o que pudesse!
 
-“Bem, olha bem para mim. Eu sou ainda um bebé,
Só com dois dias contigo, mas tens que me prometer,
Dar-me boa educação,
E, pelo menos, aos dez anos, levar-me à comunhão. Prometes?
-Tive que lhe prometer-
 
-Sim prometo
-Qual a garantia?
-Quando chegar esse dia, tu vais ver
 
O setenta e nove calou-se,
Eu já me estava a ver com os oitenta nove!
 
Vou comprar uma bengala nova!
Tenho que me esforçar
Tenho que sonhar.
….xxx….
Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque
 
 
 
 

Silvino Taveira Machado Figueiredo
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