Amigo,
Agora que cruzamos as nossas linhas,
e trocamos confidências que nem santos e pecadores,
podíamos marcar um encontro.
Não falo dum encontro entre amigos sentados à mesa
numa conversa de café,
divagando sobre o tempo que faz,
a fome que vai pelo mundo
ou sobre os ventos ásperos que varrem a síria
e abalam os nossos telhados de vidro,
mas, sim, um encontro a dois,
apenas nós,
pessoas que sentem que se gostam,
e por uma questão ou outra na encruzilhada da vida
têm andado por caminhos diferentes.
 
Podíamos marcar um encontro,
porque se não formos nós a marcá-lo,
como fazem os gatos em fevereiro,
os rouxinóis em abril,
ou as andorinhas no meu beiral antecipando a primavera,
talvez nunca nos encontremos
e a teoria da evolução será posta em causa.
Segundo darwin,
cada espécie tem o seu encontro natural,
cada encontro busca a procura do amor
cada ninho tem o seu par,
mas pelo que vejo,
isso só acontece na espécie menor, digo eu,
porque na espécie superior,
os encontros são combinados entre gabinetes de guerra.
Seja como for, darwin não tinha net,
logo, não sabia tudo sobre encontros e sobre amor,
mas nós temos,
e agora que virtualmente cruzamos os nossos linhas
podíamos fazer como as andorinhas do meu beiral:
Antecipar a primavera e promover o nosso encontro
para falarmos de amor,
como faz a espécie que tudo sabe sobre encontros.
Amigo, creio que já sabes tudo sobre mim, ou quase,
mas se marcarmos um encontro
saberás quem sou, apenas eu,
sem gosto-não-gosto,
sem selfies coloridas e risonhas,
sem rede ou trapézio,
sem varinha mágica ou pós de perlimpimpim
apenas eu, mulher carente e solitária
num sonho de amor desencontrado
semente à procura de sol,
selfie a preto-e-branco com sorriso de esperança,
numa vida até agora de sentido errado
que sente que no cruzado da net
somos o ponto de partida para um novo rumo.
 
Amigo,
agora que há muito nos conhecemos da net,
podíamos marcar um encontro…
 
Que te parece?

santos silva
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