Fluorescência Musical

 Tudo começou quando eu estava quase adormecendo de tédio no seu sofá, observando a janela disforme e o teto rabiscado com tintas fluorescentes -um desenho inspirado nas obras da Anaïs Nin-, beleza que só poderia ser vista na escuridão total.
Você chegou de fininho, e começou a tocar guitarra. Me ergui o máximo que pude, quase ficando de cabeça para baixo, e tudo o que conseguia perceber era uma grande sombra musical. O tédio foi se dissipando, e cada nota derramada adentrava os poros de minha pele. Parei de respirar. Cheguei a abrir a boca, para só depois ter o prazer de encostar os lábios novamente. Me abracei, apertando a camisa. Sussurrei coisas aleatórias, incluindo ameaças de morte caso a música parasse. Suas intenções me envolveram de cima a baixo, por todos os lados. Eu continuava a afundar no sofá. Não mais de tédio.

Ágani L.
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