A Mulher de Preto.

Discreta, ela atravessa a rua em linha reta.
Todos os dias a vejo passar no mesmo horário.
O vestido ligeiramente comprido,
Cintura no lugar, bolsa na mão.
No pescoço, o cordão e o escapulário.
Ela não olha para os lados...
Para quê?
Mulheres são indecentes, homens safados.
O melhor é fingir que não se vê.
E os camelôs e suas barracas ilegais?
Ela arrisca um olho seduzida pelo barulho colorido,
Mas logo se arrepende e não olha mais:
Seu recanto não permite resvalar no proibido.
Ontem, a moça do vestido preto deu um encontrão no rapaz, pasta, perfume, o conteúdo da bolsa espalhou-se pelo chão.
Constrangido, ele ajudou a moça de vestido, pediu desculpas, beijou-lhe a mão.
Hoje, eu a vejo passar na hora certa.
A bolsa, a cintura no lugar, a postura ereta.
Ela para, olha para os lados, retoca-se no espelho.
A moça segue radiante, com seu vestido preto. 

Mauricio Lomes
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