Com amor para você...


I

A vaga dimensão do teu estrado
alerta a excitação, tua confidente,
acerca do perigo desse enfado
incólume, mas fato logo à frente.

Então, humano, eu hei-me apresentado
assim como qual raio refulgente,
embora em meu redil, em meu reinado,
alguns até me chamem de inocente!

Inglória é qualquer luta e sem medida,
aquém de quem não tem conhecimento
acerca do inimigo e ao tal não vença

enquanto não prepara a si guarida
e à lida não se empenhe em movimento.
O leito mata mais do que a doença...

II

O leito mata mais do que a doença
e o corpo se contorce enquanto pode.
O erro do abrir mão de ver na crença
um meio de vencer a dor que eclode

acolhe o mau presságio e a mente pensa
em ver na morte algoz que em breve acode
e traz descanso; encolhe a vida extensa.
É como alguém que possa e não denode.

Eu vejo a multidão que está entregue
às vis masmorras do sofrer profundo
e à possibilidade de ter sido

em vão o Sacrifício e em vão eu pregue
alívio através do Autor do mundo.
Eu disso estou, de fato, convencido.

III

Eu disso estou, é fato, convencido
e sinto que, enojada, a alma encolhe
a fim desse “expurgar sentir vencido”
o qual à esperança, alegre, tolhe.

Ó raça desumana eu tenho lido,
há tempos nesse Orbe que me acolhe,
em lábios de pensantes! Hei sofrido
e à lágrima que cai deixo que molhe


o peito que é de homem, carne e osso...
A fim que o sal espalhe o seu tempero
e torne a minha força ainda mais densa.

Acorda, ó multidão, do estado insosso!
Avante pra sair do destempero!
A dor nada resolve, é louca prensa!

IV

A dor nada resolve, é louca prensa
a dar tom de moído ao intelecto,
outrora doutrinado co’ a presença
ardente de um Amor que em todo aspecto

aduz a solução pra desavença
e torna o ser pensante em circunspecto,
embora não obrigue esse a que vença
e nem que se perturbe em meio ao séquito

ornando a mente morta de preguiça.
Há quem faça da dor ou sofrimento
escada que o eleva pra ser tido

um mártir de si mesmo, sua justiça,
e não coopera para o crescimento:
Enfado temerário e aborrecido...

V

Enfado temerário e aborrecido...
O homem é aquilo que ele lê.
O mal, a fé... Não sei se os hei delido...
Estou doando, mas quem é que vê?

Havia um ser amiúde combalido
e o osso não largava sem por quê.
Até que foi largado, em vão, caído
e assim salvou quem nessa história crê!

Eu sei que nós humanos temos jeito!
Eu sei, mas temo ser mui tarde, agora...
Enganos são cantados, sem defensa

e dói que comprem tanto esse mau pleito...
Um dia as coisas vão ruir lá fora;
Alguém maior virá cobrar a ofensa!

Infelizmente o Site de Poesias não permite mais de 10000 caracteres, de modo que se você desejar ler a Coroa de Sonetos completa precisará acessar:
 
http://ronaldorhusso.blogspot.com.br/2013/01/com-meu-amor-para-voce.html#links

Desculpe...

 

 

O texto acima é uma Coroa de Sonetos (Quinze Sonetos, sendo que o último verso de cada um dos primeiros catorze formam "a Coroa", ou seja, o Soneto Síntese da Obra) que teci em homenagem a Salomão.
Esse tipo de trabalho é árduo e exige muito do poeta.
Cito Nilza Azzi, Paulo Camelo, Marcos Loures, Fiore Carlos... Como amantes dessa modalidade poética...

Yerushalai/Israel