O SENTIMENTO DO CÍRIO

O SENTIMENTO DO CÍRIO

O Círio é massa de gente,

 

o Círio é onda de fé;

 

é romaria de crente

 

na Virgem de Nazaré.

 

 

 

O Círio é algo que encanta,

 

o Círio em si já redime;                     

 

ao ver no povão que canta,

 

a toda fé que se exprime.

 

 

 

O Círio é crença do povo,

 

o Círio é esperança divina;

 

são muitas preces, de novo,

 

para alcançar boa sina.

 

 

 

O Ciro é cântico, é prece,

 

o Círio é hino da Santa;

 

dor no corpo que padece,

 

paz no coração que canta.

 

 

 

O Círio é penitência na corda,

 

o Círio é devoção na Berlinda;

 

nas mãos que esfoladas da horda,

 

puxam o nicho da Mãe, tão linda!

 

 

 

O Círio é procissão credosa,

 

o Círio é folia profana;

 

ao lado da grei piedosa,

 

também vai turba mundana

 

 

 

 

 

O Círio gasalha romeiros,

 

o Círio acolhe visitantes;

 

pra legiões de vendeiros,

 

há multidão de comprantes.

 

O Círio é pra mim e pra ti,

 

o Círio é dos peregrinos;

 

já os brinquedos de miriti,

 

são o regalo dos meninos.

 

 

 

O Círio o fervor restaura,

 

o Círio a pureza aflora;

 

oram brasileiros, parauara,

 

rogai por nós, ó Senhora.

 

 

 

O Círio pressupõe a mesa boa,

 

o Círio é, também, o arraial;

 

a data é pro sumano da canoa

 

e pro autarca belenense, o Natal.

 

 

 

O Círio é reencontro com os que foram,

 

o Círio é o congraçar dos que ficaram;

 

em torno a mesa farta a que acudiram,

 

chegantes e restantes que se acharam.

 

 

 

O Círio é um estado d'alma,

 

o Círio é arroubo espiritual;

 

é bem que nos incita e nos acalma

 

e, do Brasil, Patrimônio Cultural.

 

 

*Homenagem do autor à Virgem de Nazaré no seu 211º Círio.
O “Círio de Nossa Senhora de Nazaré”, em Belém do Pará, é a maior procissão religiosa do mundo, reunindo, na manhã do 2º domingo de outubro, em derredor de dois milhões de pessoas, representados por residentes, paraenses ausentes que vêm para participar da romaria e gente de todo o Brasil e até do exterior, que aqui chegam para “pagar promessas” ou como simples turistas; a multidão enche as ruas do trajeto do préstito sob seus famosos “túneis verdes” de mangueiras, entoando cânticos, orando e cantando hinos, contritamente. À passagem da Berlinda nuvens de papel picado são lançadas dos prédios e fogos de artifícios saúdam a Mãe de todos os paraenses.
SÉRGIO MARTINS PANDOLFO
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