ATRAVESSANDO O DESERTO


Por: William Vicente Borges
 
Estou atravessando o deserto.
A sede é grande.
O desejo de chegar a terra
que mana leite e mel é a cada
dia mais intenso.
 
O maná ainda cai pela manhã.
A boca também continua seca.
Mas minha a sede maior é de
liberdade e sombra.
Um desejo enorme de mergulhar
Em águas profundas e correntes.
 
Perdoe meus amigos por não
conseguir construir um oásis
assim fazem os heróis. Mas
estou longe de sê-lo.
Estar neste deserto me tem
deixado um pouco amargo.
Deve ter sido por causa da
Última água que tive beber.
 
O tempo vai passando e
minha pele ressequida
está cheia de feridas.
E minhas lágrimas salgadas
já não caem mais.
A cada dia espero vislumbrar
os campos verdejantes.
Não sei como ainda posso
Ter tanta esperança?
 
Estou atravessando o deserto.
O que mais posso fazer?
Digo a minha alma: Calma,
não pare. Falta pouco.
Espero poder chegar ao fim
desta jornada com condições
para tomar do leite e saborear
do mel. Mas não quero me
esquecer do deserto que passei.
Pois por causa dele é que o leite
será mais bem vindo e o mel
ainda mais saboreado.
 
Fim

Os desertos da vida podem ser muito cruéis.

Outono de 2007 - Vila Velha - ES