Lágrimas

Uma profusão de luzes demorara-se sobre as seculares águas de fontes insepultas, peixes e nenúfares esvaíram a existência para pertencerem às palavras veladas do amor. Os rostos verteram as lágrimas silenciosas dos setes demônios de Madalena, rostos que alastraram as chamas de Joana d’Arc,  rostos ondulando no amor tardio de Paulo de Tarso ao coração de Estêvão, e o instante da estagnação da eternidade nos impeliu a voltarmos para as lágrimas de seus olhos. As hieráticas sombras do amanhecer haviam fenecido sobre as adensadas omoplatas; abrindo, fechando, e, com as minhas mãos na corda dos sinos, no alto do campanário, um demônio da profunda melancolia ordenara que as minhas asas de falena se unissem aos brancos rugidos das ondas que se precipitam de encontro à alma dos rochedos. Mas quem éramos naquele tempo em que não sabíamos sentir e fixar o que haveria de existir aos arredores das múltiplas passagens dos segundos a nos fitarem em mítico segredo?Talvez fosse a intangível matéria dos sonhos que, lentamente, antecipara os deletérios da minha saudade, e as pronúncias primevas entornaram nas águas embevecidas de seu olhar: “ Reze por mim, e ouça os espectros que jazem nas vozes frias dos sinos eternos”.

Eloisa Alves
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