Queria falar de poesia, das coisas boas da vida, das flores, das férias, das fotos, da alegria, da festa de aniversário de uma criança, da música, dos sonhos, dos jovens e dos adolescentes, de suas idéias até mesmo da rebeldia...

Queria falar da minha vida, da mulher amada, da família, falar dos filhos, das suas risadas, do jogo de futebol na sala, das birras na hora do banho, da toalha molhada em cima da cama, dos rabiscos na parede, dos fantasmas feitos com os lençóis,  dos sapatos e brinquedos espalhados pela casa,
dos nossos momentos a sós...

Queria falar da escola, das notas baixas nas provas, do presente no dia dos pais, das doenças, da saúde, dos ais, da boca banguela quando o primeiro dente cai, do sorvete que derretia, da roupa que não servia até mesmo da briga da garotada, coisas para mim, demais...

Queria falar da minha infância, naquela casinha singela, do retrato dos pais na parede, das goteiras no telhado, do banheiro fora de casa, do caquinho no quintal, da geladeira vermelha, das roupas voando no varal, das batalhas com travesseiros pela mãe interrompidas, éramos crianças sadias e arteiras vivendo descontraidas...

Queria falar daquele tempo quando andava descalço na rua, corria, pulava, me divertia, não tinha shopping, se tinha, eu não sabia, comia pão com ovo e na chuva me divertia,
com bolinhas de gude brincava e também de se esconder, não havia malícia nem tampouco impurezas, respeitava os mais velhos e aos pais obedecia, não havia bala perdida nem adeus sem despedida...

Vivia a simplicidade, sem cerca em nossos quintais, hoje os muros são altos mas nada  impedem os marginais, que roubam, sequestram e matam como verdadeiros animais,
é gente matando gente como seres irracionais e o mundo do faz de contas, esse não vemos mais, queremos ter segurança, porém, não filhos policiais...

Hoje, me pego falando sério sobre coisas que eu não queria
o tempo passou como um vento prometendo mais alegria
era o preço do progresso cobrando nossa energia
acabaram as conversas na sala, as viagens nas páginas de um livro,
ficaram as mentes vazias e pessoas que se comunicam sem fala...

Se foram as palavras sinceras trouxeram a hipocrisia, se foram os conselhos dos velhos:
cuidado com más companhias, falava-se face a face, fazia o que queria,
hoje só pelo "Face", whatsapp orgulho da tecnologia
aproximaram os distantes, distanciaram os presentes
se trancaram em seus quartos e abriram as portas para o mundo...

Escrevemos na linha do tempo mas apagamos a história da vida, lemos tudo na palma da mão, mas não compreendemos os sentimentos do solitário coração, somos máquinas que falam, mas sem cérebro para entender, arquivamos em gigabytes, mas temos memória curta, inverteram-se os valores, ficaram as incertezas, quebraram-se os preconceitos, vieram os dissabores...

Se antes eu me detinha nos brinquedos que eu fazia armas de madeira, estilingue, era um mundo de pura magia e nesse mundo eu crescia, hoje, os games influenciam quase todas gerações, idosos viram crianças, mas com uma condição: virar feras assassinas com um controle nas mãos, são lutas, tiros, batalhas que causam fascinação, prendendo a mente em cadeias que clamam por libertação...

Hoje, me pego falando sério sobre assuntos que eu não vivia
sexo, drogas, roubos, violência e da tal pedofilia que até padre alicia, desvendamos os mistérios da ciência e do universo, mas desconhecemos o ser humano, fortalecemos o corpo, alimentamos a alma e subnutrimos o espírito, o ter superou o ser, ter ou não ter agora é a questão...

A realidade da vida hoje virou fantasia e do mundo colorido de outrora uma nova realidade surgiu, não mais uma mente sadia que coisas simples a preenchia, manchamos a inocência, poluímos o coração cauterizamos a consciência e perdemos a razão, brigamos por nossos direitos com força e dedicação, mas, se são direitos, não tê-los, qual a razão?

Agora, me pego falando sério, sobre as coisas que eu acredito, se o mundo está desse jeito é porque se afastou do seu Cristo...as vezes fico perplexo com cenas que eu assisto e chego a conclusão que tudo é falta de Cristo...

Zeca Moreira
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