Poeta sinistro na contramão

Já escrevi muita poesia, muito poema

Quase nada, comparado aos grandes mestres da Academia Brasileira de Letras Sem ideia aqui divago em um momento vago, aperto o bago tirando leite das pedras

Formulo perguntas, nem sempre em busca de respostas

Sobre tudo, todos, sociedade, História, segredos de Deus e mundo

Fazendo de meu subconsciente o submundo

De um lugar seguro, concha de paguro, cuja forma ainda eu nem sei



Em nome da ética, se abster da estética, metafísico ser

Uns querem estar na lista da Forbes, sendo mais um na fila do pão

Filando a boia fria, sonhando com a própria primazia

Numa rima interna, contradição eterna

Ao saber de tudo, ser melhor que os outros, enquanto se esquece de ser

Ser bem sucedido, se dar bem na vida, esquecendo de viver bem



A vida para o outro é emprestada, para que o dono parta em busca de um mistério

Perguntando se existe vida fora da Terra, e depois diz que o alien sou eu

Quando te provoco, problematizo qual é o problema do meu riso

Quando zurras esse guizo ameaçando a dúvida da vida com a dádiva do cemitério

Perguntando se existe vida após a morte, e depois diz que o preocupado sou eu

Preocupado sou em conhecer minha loucura, embebedar-me em tanto riso, antes de a sorridente gargalhar

Mapear minha psique, liberdade do porquê permite que os afluentes de minha consciência em auto-síntese possam se encontrar



Da manjedoura pro calvário

Seguimos a via sacra de nosso suicídio assistido

Sofrimento o sangue pecaminoso jorra sobre lascas de carvalho

Renunciando à nossa própria imagem, usando como armadura as nossas macias mortalhas

Entregando seu cantil ao soldado amigo em meio à guerra

Temendo arder eternamente em flamejantes fornalhas

Escondidos descascam bananas, lambendo os beiços ao imaginarem o sabor natural do tal fruto proibido



Uns martirizam pra ser santos, enquanto meu objetivo de vida é consagrar em carne minha divindade

Aceitando nossa perfeita imperfeição

Polos diferentes em confronto fazem a lâmpada acender

Sem que nos julguem, sem antes ouvir o que diz Jung

Sem maniqueísmo torpe, nem exorcismo em vão, se Oriente, Ying e Yang Lapidando em cavernas iluminadas com fogo prometeico nossa maior vontade



Acorrentando Apolo e Dioniso, queimando a virgem Moralina em sua própria inquisição

Adestrados filhotes somos a latir pra lua

Amestrados somos a nos intitularmos mestres de caça

À mercê da glória do caçador, quando esperava a escassez passar

A fome se confunde à vontade de comer, assim a matilha paira na fumaça Deitados, acuados, abaixam a orelha ao cajado como a massa que andava nua

O selvagem a ninguém serve, assim deve ser, a cada dia as horas vão dizendo adeus

Ouvindo sempre ‘’graças a deus’’, qual dos milhares será?

Já sei qual não é

Só sei que essas ideias emergem das águas profundas do meu eu-lírico, em vez de caírem do céu

Traga de volta para o rascunho as ideias que fugiram para o papel