Qdo o fim da linha me chegar
depois de uma viagem perto do fim
se me perguntares o que lamento
não direi,
que é a morte que chama por mim.
 
O que me assusta e lamento
não é chegar ao fim de linha…
é ter feito uma viagem contra o tempo
numa corrida quase louca, sem viver
galgar etapas sobre etapas sem parar,
ter sonhos pra fazer… e não fazer.
 
Qdo apontaste o dedo e me disseste:
- Tu não prestas!
baixei os olhos e continuei a corrida,
uma corrida desenfreada e sem sentido
procurando chegar à meta do quase, quase,
quase, quase chegando lá,
tropeçando neste quase, quase, quase céu
ignorando o dote que a natureza me cedeu: a Vida.
 
O que me assusta e lamento…
não é a morte que me bate à porta;
é ter vivido uma vida quase morta,
ignorar o dom que a natureza me concedeu
gastando-o numa corrida sem parar
numa viagem que um dia vai findar.
 
O que me assusta, lamento e magoa…
não é chegar ao fim da linha,
tão-pouco
aceitar a morte que me há-de bater à porta:
É este viver, esta corrida feita à toa,
numa viagem de olhos postos no chão;
é ter caído, ficar dorido e calar,
dizer sim, qdo queria dizer não,
dizer amén e obedecer, sem querer,
ignorando o dote que a vida me concedeu: Viver!
 
É este o meu lamento antes de morrer!
 
angelino
in, MENINO DO ARCO - poesia no outono da vida

 

santos silva
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