Síndrome de Eva


Faz tempo venho refletindo sobre o livro de Gênesis, precisamente a passagem onde Eva come o fruto proibido, desequilibrando o mundo, mudando o projeto original de Deus para a humanidade.


O que Eva estaria pretendendo ao desafiar a Deus?


Para muitos, essa história é uma lenda. Lenda ou não, faz parte da cultura judaico-cristã, traduzida e reproduzida no cinema, teatro, televisão, música, arte e literatura. Sendo assim, compõe o universo cultural de milhões de pessoas.


Não tenho a pretensão de provar a veracidade desta história. O homem tem liberdade para acreditar no que quiser. Alguns costumam aceitar as histórias como se fossem crianças, aproveitando os detalhes e dando asas à imaginação.


As civilizações da antiguidade tiveram seus mitos, que explicaram fenômenos numa época em que a Filosofia e a ciência não existiam. Mas depois que o saber se desenvolveu, muitos passaram a ridicularizar os mitos. Entretanto, nenhum povo pode existir sem histórias. E as histórias são contadas de acordo com o conhecimento disponível da época. Cada grupo, em seu tempo, deixou seu legado, seja mito, lenda, conhecimento filosófico ou científico.


Existem povos, que tiveram a cultura tão marcante que fez com que a tradição e as lendas atravessassem o tempo. O povo judeu, por exemplo, em busca da terra prometida, fez com que suas idéias fixas criassem raízes.


A história de povo exclusivo, com terra prometida, com a matança de inimigos e tudo o mais... Ultrapassou a fronteira do tempo.Subjugados, espalhados como espólio de guerra perderam o seu território por longos períodos. Mas a ideia fixa de povo exclusivo criou "ondas", o Livro Sagrado, surgido dentro de sua cultura espalhou a ideologia que foi tomada de empréstimo pelo mundo. Então, com todo o sofrimento do Holocausto, conseguiram o apoio dos Estados Unidos e da Organização das Nações Unidas e retornaram à "lenda".

Voltando ao início do texto, - da qual já ia me esquecendo e que foi a razão da inspiração, - Eva desejou ser igual a Deus. Só isso, ponto final.


Ela já conhecia tudo, exceto a morte. Que motivação haveria em conhecer quase tudo e não conhecer uma única coisa que a deixava muito curiosa? Eva abriu a "Caixa de Pandora" do seu tempo. Eis aí a Mitologia grega, que à sua maneira, tentou explicar o aparecimento do mal no mundo.


Todos têm um pouco de Eva. A síndrome da curiosidade, o desejo de querer saber todas as coisas.

- Morte! O que é isso? – Pensou Eva, que ainda não conhecia essa coisa. Ela, que não tinha sido feita para morrer, atraiu a morte por curiosidade.


É por isso que quando alguém morre, eu penso: fulano teve acesso a uma experiência antes de mim, o que o faz especial. Pois existe uma curiosidade em conhecer a morte, mas não se deve correr para os braços dela só para ver o que há do outro lado. Há tempo para todas as coisas...


O aposto Paulo compreendia o valor da morte e chegou a dizer: “Morrer, para mim, é lucro.” Neste contexto, para ele, morrer era melhor do que viver as atrocidades desta vida. Ele não estava pedindo “arrego”, mas compreendia a morte como prêmio, dádiva, embora soubesse o quanto era importante sua presença neste mundo para cumprir a missão que lhe havia sido destinada.


Quando tudo parece sem sentido, situação que acontece na vida de qualquer pessoa, nasce o desânimo, desejo de pôr fim à própria existência. Mas, o exemplo do apóstolo Paulo deve ser lembrado: ele cumpriu aqui o seu papel, nem mais, nem menos. E quando Deus achou que o tempo dele havia sido cumprido, ele recebeu o seu galardão, “seu lucro, sua dádiva”: a morte! Ou melhor, a verdadeira vida, já que para ele a morte seria lucro.


Para que a vontade de viver não ultrapasse a fronteira da curiosidade e saiamos por aí abrindo tudo quanto é caixa, como crianças curiosas, precisamos descobrir a verdadeira missão de nossa presença ainda nesse mundo.


Paulo tinha como meta, propagar a mensagem do Cristianismo. Ele pagou um alto preço. Açoitado, injuriado, naufragado, preso... Com todo esse sofrimento psicológico, ainda teve inspiração para escrever grande parte das epístolas do Novo Testamento. Sua disposição em fazer a vontade de Deus era tão grande que pedia aos seus contemporâneos que o imitassem: “Sede meus imitadores, assim como eu sou de Cristo”.


Para pedir coisa semelhante, o indivíduo tem que ser genuíno, tem que estar falando a verdade. Ninguém deve usar o nome de Deus para mentir ou se promover. Só deve usar o nome de Deus quem está credenciado. E Paulo foi credenciado a caminho de Damasco, quando ficou temporariamente cego. Após isto recobrou o juízo aceitando a missão de apóstolo e embaixador do Cristianismo.


Então, qual a diferença entre Paulo e Eva? Eva conheceu um mundo perfeito, tão perfeito que não o suportou, curiosamente desestruturou o mundo, transformando o paraíso em inferno.


Paulo tentou transformar o inferno em paraíso, através da mensagem do Evangelho de Jesus Cristo.

Selma Nardacci dos Reis
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