Coração Curupiresco
Escurece o céu de negro e tanimbuca,
Tupã-beraba assina seu nome pelo espaço!
Joga setas pontudas no chão do mundo!
Tupã-cunenga brada palavrões indescritíveis:
-“bababadalghaghtakammninaroonkonnbronntonneroonntuonn
thunntrovarohounnawnskawntoohoohoordenemthurnuk!”
Um espectro se desenha na selva,
Por seu penteado desajeitado e encarnado,
Por causa do seu couro bronzeado;
Por causa dos pés virados pra trás:
Ai que é o Curupira!
Ai que é o Curupira!
Bate o Curupira nos troncos dos paus.
Toc-toc-toc! Toc-toc-tém! Toc-toc-tém!
A ver se estão seguros:
-“Apôis! Pódi caí amana!
Arre água!”
Curupira, pequeno deus protetor
Das matas e dos animais,
Que vaga na selva montado num Tapir:
-V’ambora Juão! V’ambora!”
Curupira tava cum precisão de cumê, muita iumací:
-“Anema quiuíra!
Dá-me teu coração!
Dá-me teu coração
Num prato pra eu cumê!”
Índio enganou Curupira
E deu coração de macaco.
Curupira pensou que verdade.
Piá! Piá!
Que podia se abrir o peito,
Piá! Piá!
E se tirar o coração pra se cumê.
Curupira ainda tinha muita precisão de comida:
-“Ui! Iumací, iumací!”
Abriu seu próprio peito...
Curupira iucauára!
Caiu de peito dilacerado...
No outro acaiú
Índio sentiu vontade de montar colar
Com os dentes verdes do Curupira.
Voltou à mata e procurou
Caveira do Curupira:
-“Mixicuí!”
Tacou crânio de Curupira nos troncos
Das árvores: Toc-toc-tém!
Pra ver se os dentes caíam...
Acangacuera de Curupira se gargaiou, se contentou:
-“Uh uh uh upucá!”
Índio com medo suimu-se, se escondeu de trás
De um pau de cunuri.
Curupira se nasceu de novo...
Gritou logo chamando Tapir:
-“V’ambora Juão! V’ambora!”
Taiaçu veio depressinha.
Curupira saiu montado no Juão por aí.
Agora deu pra se aparecer do jeito de gente
Na tauapuranga da Guanabara.
Depois já o viram em Brasília-tauapiçaçu,
Se candidatou, dizem, pra deputado...
Do partido verde! Do Greenpeace até...
E inté na tauacuera-paris discursou:
- “Todo verde tem um coração curupiresco!”
Tapir se aparece também, mas em terno de assessor.
do livro Hiléia (1999), republicado no Florilégio de Alfarrábio (2003).São Paulo
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