na tapera de barro, em São Camilo,
tinha um velho jumento e uma carroça,
meu avô, c’um enxadão, tratando a roça,
minha mãe no pilão, socando milho,
preparava o curau, pra dar pro filho.
tinha um cesto de juta e um lampião,
e a fumaça da lenha no fogão,
Um canário cantando no arvoredo,
E minha avó, acordada, desde cedo,
remexendo à panela de feijão.
Madrugada, meu pai se levantava,
E saía bem cedo pro batente,
Mas a broa de milho e o café quente,
Tinham um cheiro tão bom que me acordava
E do queijo de coalho que eu gostava,
E espalhava, à vontade, pelo pão.
Minha avó, repetia uma canção
remoendo e cantando distraída,
cozinhando e levando a própria vida,
Remexendo à panela de feijão.
Desde então, se passou a vida inteira
hoje moro sozinho na cidade.
Dos meus pais e avós, restou saudade,
E as receitas da velha cozinheira,
a lembrança é frequente e companheira,
mas se o medo desperta a solidão,
e a saudade maltrata o coração,
eu não conto a ninguém esse segredo
mas amanso a saudade e espanto o medo,
Remexendo a panela de feijão.
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