Tempos outros , feliz, era  um rio repleto de vida, em calmo leito
O universo, vaidoso,   refletia-se em mim,  um espelho perfeito
Sempre amei  as  arvores, os  pássaros, ainda adoro  estrelas
As vezes, preguiçoso, dormitava  nos remansos para vê-las
 
 Mas, certa vez vieram, calcularam, tomaram-me  medidas
Arquitetaram  a construção de  longa e   faustosa avenida
Sob a tutela humana um magnifico e  esplendido  projeto
Sem vozes contra,  me vi emparedado por muros de concreto
 
Adeus ao firmamento, adeus  vidas gentis que em mim bebiam
Se muito  chora o ceu, reclamo vê-lo, transbordo e assim caudaloso
Destruo vidas, lares, sou besta fera, irreconhecível pelos que me viram
 
Apenas um canal arrastando detritos, águas poluídas, um futuro sombrio
O homem, maior gloria divina, comenta injustamente que sou perigoso
Eu que fomentei  vidas sonho,  na escuridão diuturna, voltar a seu um rio
 
Pelo Anhangabau, Tiete e outros rios do mundo que o progresso da raça humana fez questão de enclasurar,desviar poluir e extinguir a vida neles existentes. Essas poucas trovas são as lágrimas da saudade de todos eles, do menor regato ao mais volumoso dos rios.
 

 

BUENO
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