Entre eu e mim, há abismos reais, plantados espontaneamente, nacos de vida, destroços de esperanças permeiam por lá, no eu fatalísticos, não sobrando nada de mim, doando-me sempre que alguém me pede um pedaço de alma.
Na palma das mãos há dois olhos cegos que se acostumaram a tatear as paredes imundas e fétidas, alguém sempre levou um pedaço de mim, enquanto eu chorava e ria de braços dados com a loucura banal.
O coração veio parar no estômago, dissolvido pelo ácido digestivo e cria uma baba azul, que bate e embala num compasso etílico, o amor cai de joelhos como um espectro astral...
Os meninos que atravessam as ruas descalços eles sabem da areia, sabem da areia do mar, do mar que corre em minhas veias, sangue e sal, incólumes sorriem de tudo, sorriem para tudo e perdem-se na multidão.
Eu quero sentar na beira de um arco-íris, cheirar todas as cores em exposição, quem sabe assim, eu não me salvo de mim sem prestar atenção pela enésima vez...
 
Janaina Cruz

Conversando com o Eu lírico

Juazeiro do Norte-CE