As Lágrimas da Lua

As Lágrimas da Lua

 

 

 A solidão da lua.

 E se a imaginássemos viva,

 Se lhe déssemos

 personalidade feminina,

 então a veríamos

 ter tristeza por estar só.

 E fôssemos além,

 a veríamos, então, chorando.

 Teríamos a visão de lágrimas

 de cristal prateado.

 Seria uma chuva

 de brilhos cadentes e efêmeros

 a se misturar

 com o brilho eterno das estrelas.

 E por ser bela a cena,

 também o céu ganharia vida.

 Teria personalidade paternal  

 e cheia de poder divino.

 Intercederia pela filha

 junto aos demais filhos.

 Com vontade divina, daria sentimentos

 a seres inertes.

 Mas este sentir

 despertaria a individualidade

 de cada um, o que poderia ocasionar

 desequilíbrio onde antes havia ordem.

 Seriam transtornos, não fosse,

 o céu onipotente que, por ser poder,

 deixaria que a ação continuasse.

 E os cristais lunares

 cairiam sobre a epiderme terrestre.

 E a terra ganharia vida,

 fertilizada pelo sentir.

 E nasceriam a gratidão

 e a afeição sincera,

 E os cortes de seu relevo

 seriam consolados.

 Fosse assim,quem sabe a terra

 gerasse filhos homens.

 Fosse possível, estes levariam em si

 um pouco da gratidão

 que os tornariam humildes

 ante a tentação da megalomania.

 Veriam- se como filhos do universo

 e não como divindades.

 Seriam batizados

 pelos sentimentos puros

 da origem da vida.

 E por entenderem

 que a liberdade

 só é possível coletivamente

 teriam a noção da plenitude

 da sua existência

 em meio ao cosmo.

 Ao compartilhar

 teriam o esclarecimento dos enganos.

 Quem sabe,arrependidos,

 também chorassem

 criando veios de lágrimas,

 estranhas nascentes

 que seriam riachos

 e depois rios

 que desaguariam no mar.

 Ali se lavariam as velhas mágoas,

 o orgulho, a vaidade e a vingança.

 Da culpa recíproca

 haveria de nascer o perdão 

 e o real sentido da misericórdia.

 E o mar seria o guardião terrestre,

 acolheria o reflexo da lua

 no seu destino de viajante.

 A calma dos serenados

 seria o porta-voz

 de novos sentimentos para a lua 

 que não mais se sentindo sozinha,

 ganharia um novo brilho

 e seria feliz e grata.

 Talvez ganhasse brilho próprio,

 onde antes tomava apenas de empréstimo.

 Sua individualidade

 estaria integrada na coletividade

 da criação universal.

 Neste instante as estrelas talvez

 estivessem mais próximas,

 cheias de maternidade.

 Nesse momento, num pequeno

 sistema planetário,

 o sol não se incomodaria

 de levar a noite.

 Com sua personalidade masculina

 ficaria encantado com a fragilidade

 que se tornara bela.

 Haveria de esperar pacientemente,

 cheio de estranha e fecunda felicidade.

 Sonhando em silêncio com o dia

 em que os agressivos vendavais

 haveriam de ser suaves brisas.

 Sentindo encher-se o quadro

 por um sutil perfume

 proveniente das flores do infinito