Vestido Preto

Coloquei sem pensar
O vestido preto que me destes,
Chaves debaixo da porta, malas prontas,
Um tolo recado riscado na cômoda,
O vazio, de nosso antigo quarto...
Por momentos quis deixar-te ir,
Sem brigas, mas minha mente zelosa,
Não abriria mão da vida,
Mesmo se a dor viesse cobrar ternuras
De duas almas feridas...
Divino pecado,
A liberdade que sonhamos,
Quantas vezes exaustos,
Fiz sorrir teus lábios
Frases mudas,
Mostrando-me tola,
Livre em tuas invisíveis teias,
A buscar corpo e boca...
Corri, corri em busca da tua ausência,
Despindo-me de todo amor enfeite,
Coração em algaravia,
Sem sonhos ou direção,
Fazendo-me oca...
Cindida de afetos,
Calei,canto
Mãos e abrigo,
Caí no imenso labirinto,
De nossa paixão incriada,
Sem mais um olhar,
Meu viceral gemido...