Poeta, Alma de Náufrago.

Poeta, Alma de Náufrago.

 
Ainda que náufrago, 
Jogaria garrafas com mensagens ao oceano. 
Ainda que sem garrafas e sem papel, 
Haveria de imaginar que existissem, 
Pois que entre o delírio e a realidade que matam, 
Viveria a ilusão da esperança que acalenta. 
Sentiria o consolo do afeto que anseio estar perdido, 
Pois que não o conquistei, 
Nem meu coração foi por ele conquistado, 
Antes, vive o abandono; não dos outros, 
Mas de mim mesmo, pois que é enfadonho ser, 
Pois que é triste existir, e ainda assim, existo. 
Pensando haver passividade 
Quando tudo em mim é profunda rebelião. 
Não amaria com distância, pois só sei amar com paixão.
E tendo paixão, teria vergonha de mim. 
Sentir-me-ia fraco ante a minha humanidade, 
Pois que ainda que inexistente, minha alma é orgulhosa, Irritantemente orgulhosa. 
E isso não me traz proveito algum, 
Apenas a força que o tempo há sempre de subjugar. 
Nisto havendo um saber da natureza, 
Pois que para o bem coletivo, 
Todo ego tem que ter limite, 
Ou a paz seria impossível 
E o caos nasceria da constância dos confrontos. 
Não sei por que insisto. 
Talvez haja a sombra de um náufrago, 
Um fantasma insepulto que insiste em existir. 
Que não vai embora, mas não deseja ficar, 
Que almeja pouco, e isto há de ser tanto... 
Pois perdido em idéias, enganado em emoções, 
Haverá um dia de encontrar um olhar, 
Que quem sabe já habite minha vida, 
Mas que, inquieto, não desvenda o silêncio.
E o silêncio diz tanto... E minha surdez não o escuta.