As vozes na minha cabeça
Elas não param.
O constante diálogo,
O explorar de coisas novas,
Os sentimentos
Muitas vezes avassaladores,
Os altos e baixos da depressão.

Brilha alta na neve a lua agora,
Delicados pedaços de gelo
Pendem dos galhos vazios.
Um sono pesado toma as árvores,
Como a convidar-me a dormir também,
Mas não posso,
Minha natureza é outra.

Dias e dias vazios,
A vida, qual assombração me assola.
Praga benévola, ela me arrasta
De um dia para outro.
Vivo esse sonho amargo,
E não sei mais se vou acordar.
Tudo é tão sem sentido e propósito,
E, se lá no fundo já sei
As respostas para o Mistério,
Elas pouco me ajudam.
O saber não conjura,
É pequeno o cobertor.

O gelo destes dias fixa
Uma imagem estática em minha mente:
Um fotografia borrada e tremida
De uma noite invernal.
Estranho é o desprazer do exílio;
Assustadora, a lógica do abandono.

Se minha tarde passou,
E a noite já me espreita,
Como ficar aqui sentado
À beira da escuridão,
Com medo de resvalar e
Cair neste abismo profundo,
Nesta boca aberta e sôfrega,
Da qual me aproximo
Relutantemente cada vez mais?

Vida, aonde foram
Aquelas tardes claras?
Aonde as esperanças infundadas,
Os vagos sonhos de outrora?
Meus enganos, minhas derrotas,
Bóiam à deriva no passado.

Nada vai alterar as vozes antigas,
Perpétuo discurso que evito escutar.
Olho futuro adentro e ele me encara,
É minha própria face que encontro
Neste espelho abismal.
Saberá responder as perguntas
Que ainda não tenho?
Saberá esconjurar meus fantasmas,
Principalmente este,
Vestido de morte e solidão?

Ah! Se eu pudesse agarrar a vida pelo pescoço,
Faria dela uma cativa melhor.
Rebobinar esta fita,
Passear pelos meus melhores momentos,
Nostalgia de ser novamente eu,
Eu quero.

 

Uriel da Mata
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