Música morta

UM MOTEZINHO DE NADA
DERRAMA PALAVRAS
ATÉ INUNDAR,
 
SOPRA, NAS CINZAS DORMIDAS,
FAGULHAS DE UM SONHO
RUIM DE TOMBAR,
 
TINGE VIELAS INFAMES
COM CORES DO ÉDEN,
SEM ANTES JULGAR.
 
MESMO REPLETO DE ARESTAS,
PERSEGUE FLORBELA,
TRANSPIRA GULLAR.
 
UM PEITOZINHO DE NADA,
MORRENDO DE MEDO,
CENSURA O FRISSON,
 
NEGA O TREJEITO DA ALMA
NUM BERRO DE ORDEM
ACIMA DO TOM,
 
TEIMA QUE POBRES COITADOS,
ENQUANTO PARIDOS,
NÃO BEBEM DOS DONS.
 
MESMO PULSANDO QUIMERAS,
DESANCA TORQUATO,
REBAIXA DRUMMOND.
 
A MÚSICA MORTA
FORÇA PASSAGEM,
RENDE MIRAGENS,
TENTA EXPLICAR:

A SUA VERDADE,
TÃO RESSENTIDA
GLÓRIA DA VIDA,
VEM NO CANTAR.

A BOCA QUE ZANGA
SERVE AO VERSO,
O CORPO DA LUTA
SABE DANÇAR.

SEU DESCONSOLO,
SUMO INSTRUMENTO,
QUANDO AÇOITADO,
TEM QUE SANGRAR.

Francisco Abel Mendes d`Almeida, em 2004.